Suspeite
de quem sabe mostrar ares de piedade. Algumas
pessoas aprendem a arquear as sobrancelhas para baixo como jeito de exibir um
elevado grau de pureza; elas são perigosíssimas. Prefira os mais soltos, os mais debochados, os
menos cientes de suas virtudes. Gente
espirituosa é melhor companhia que circunspectos sisudos, que se arrastam pela
vida com chumbo nos pés.
Evite
sentar na roda de quem exige rigor semântico até na hora da conversa fiada. Nada mais intolerável do que conviver com quem
adora corrigir os outros. Se alguém diz,
vou à igreja, ele dispara: “a igreja somos nós, não um prédio”; se
confessa, ando desanimado, ele engatilha um versículo: “mas os que
esperam no Senhor renovam as suas forças”.
Apure
rigorosamente todo relato de milagre. Prefira
ser cético a simplório. A verdade não
teme análise, questionamento, suspeita. Pergunte também pelas motivações. Queira saber os porquês por detrás dos
relatórios de eventos fantásticos. Exageros,
prodígios forçosos, números evangelásticos, em sua esmagadora maioria se
prestam a alimentar os músculos financeiros do narcisista ou pretensão
messiânica da igreja ou da agência missionária. Critique toda correria para alcançar os
primeiros lugares na seara de Deus.
Reconheça
as mentes sórdidas escondidas no rigor moralista. Quem passa muito tempo se exasperando contra
os pecados da carne vem sendo escravo da lascívia há muito tempo. Rigidez puritana não abranda o fogo da libido,
só o adoece. As taras mais grotescas –
sadismo, masoquismo, pedofilia e zoofilia – se proliferam em ambientes austeros
e probos. Os que vivem uma sexualidade
lúdica conseguem ser menos adoecidos.
Faça
qualquer coisa – fuja, esconda-se, dê o fora, encontre um escape – para evitar
os tapetes azuis do poder. Se for
nomeado síndico, presidente de honra da quermesse ou venerando líder da igreja,
considere os perigos avassaladores de qualquer cargo. Abra mão de ostentar títulos em cartão de
visita, no perfil de redes sociais. Placa
de bronze ou acrílico, diploma e medalha não passam de confetes, lixo da
quarta-feira de cinza.
Soli
Deo Gloria
Ricardo Gondim
(Este texto me mandaram via e-mail.
Gostei muito dele pela sua simplicidade, clareza e precisão, então
resolvi dar publicidade, reconhecendo o seu autor)
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