quarta-feira, 17 de abril de 2024

O CRISTÃO E A POLÍTICA – nossa herança



Sobre o cristão e a política é importante destacar que esse sempre será um tema de interesse e atualidade.  Por isso também devemos observar qual a herança recente da igreja nessa área específica e como ela tem se posicionado nos últimos tempos.

Em relação a herança e a contribuição dos cristãos para o ocidente e seus conceitos de civilidade, democracia e humanismo, convém citar as palavras de Ariovaldo Ramos:

“Nós construímos uma sociedade de direitos, lutamos por e reconhecemos direitos civis, e não podemos abrir mão disso; não podemos abrir mão da civilização que ajudamos a construir e a solidificar, onde mulheres, homens e crianças são protegidos em sua integridade e garantidos em seus direitos.  Na democracia que ajudamos a reinventar, onde cada ser humano vale um voto, tudo pode e deve ser discutido segundo as regras da civilidade.” (in guiame.com.br)

Ao longo dos últimos cem anos, alguns nomes cristãos se destacaram por suas atuações políticas e contribuições para suas respectivas comunidades e nações.  Nomes como o do metodista sul-africano Nelson Mandela que catalisou a liberdade racial no seu país.  O diácono batista Jimmy Carter que presidiu os Estrados Unidos.  E o anglicano Tony Blair que se destacou como premier britânico.

Dois nomes nessa relação, porém, merecem destaque especial: o pastor batista Martin Luther King Jr. (1929-1968) que liderou a nação norte-americana no fim de suas leis racistas e a aprovação dos direitos civis a partir de suas pregações bíblicas em sua igreja em Atlanta e seu engajamento social e político, sendo reconhecido com vários prémios, inclusive com o Nobel da Paz.

Também destaque merece o nome do luterano alemão Dietrich Bonhoeffer (1906-1945).  A partir de estudos bíblicos e de ética cristã ele se recusou a apoiar a política nazista alemã, fundou comunidades cristãs no seu país comprometidas com a verdadeira confissão cristã.  E por conta de seu comprometimento cristão ele acabou preso e morto num campo de concentração.  Porém deixando um verdadeiro legado de como os cristãos podem – e devem – se posicionar frente às demandas políticas de sua nação.

(Da Revista DIDASKALIA – 1º quadrimestre / 2023 – IBODANTAS)

terça-feira, 9 de abril de 2024

ÉTICA E ACONSELHAMENTO PASTORAL

 Respondendo a uma questão sobre as bases éticas e bíblicas do Aconselhamento Pastoral, eu ofereci a seguinte reflexão:

Inicialmente, em linhas rápidas, é preciso logo deixar observado que, no Brasil, a atividade de aconselhamento pastoral só deve ser feita sob a ótica espiritual (ou religiosa).  É vedado por lei o exercício de atividade de atendimento psicológico / psicanalítico por profissional não habilitado.

O pastor deve ser graduado em Teologia e, embora na sua formação acadêmica, tenha estudado sobre noções de aconselhamento/acolhimento (é assim nas instituições sérias!), ele não tem em si uma formação científica específica na área.

 

Em relação à base bíblica do aconselhamento pastoral: tudo começa com o amor (assim logo cito Cl 3:14).  Toda atividade cristã (e o pastor necessariamente se inclui aqui) deve começar pelo verdadeiro amor (lembre Mt 22:37-39).

A tarefa de aconselhamento pastoral deve ser exercida como uma forma concreta de acolhimento e vivência de amor cristão, procurando – através de linhas bíblicas – ensinar, redarguir, corrigir, instruir em justiça (2Tm 3:16).  Sob a orientação do Espírito Santo.

 

Acrescente: O apóstolo Pedro na sua primeira carta instrui aos presbitérios que pastoreiem e cuidem de seus rebanhos sem ganância, mas com a atitude de serviço.  E nunca ajam como caudilhos daqueles que lhes foram confiados pelo Supremo Pastor (1Pe 5:1-4).

 

Indo um pouco mais.  Preste atenção que no texto de Ef 4:11 o apóstolo cita o ministério de pastoreio entre os dons (carismas) com os quais o próprio Espírito capacita a igreja.

 

Curiosidade:  o termo em grego no texto citado é ποιμήν que implica literalmente, no dicionário, um pastor, alimentador, protetor e governante de um rebanho.

Ou seja: o pastorado é um ministério a ser exercido entre a Igreja de Cristo por homens e mulheres que foram escolhidos, designados e espiritualmente capacitados por Deus para cuidarem do rebanho a eles confiados pelo Cabeça da igreja – Cristo.

 

E para concluir: a passagem da restauração de Pedro e seu comissionamento é bastante significativo nessa compreensão (leia Jo 21:15-17).

— Pedro, você me ama?

— Então cuide de minhas ovelhas!

 

 

Aproveitando, utilizando da metodologia da oposição de conceito, leia algo que escrevi sobre o que seria exatamente o contrário do ministério pastoral

O CAUDILHO ECLESIÁSTICOlink

Também, sugiro duas respostas que já ofereci a temas similares:

SOBRE MINISTÉRIO PASTORALlink

APTIDÃO E PASTORADOlink

 

terça-feira, 2 de abril de 2024

NEM JUSTO DEMAIS, NEM SÁBIO DEMAIS



O texto bíblico de Eclesiastes é uma antologia de frases proverbiais e de sabedoria, aforismos e axiomas atribuída ao mestre (gosto do título em hebraico: קהלתqohelet – o erudito), rei em Jerusalém.

O tema repetido quase como um refrão no texto é que tudo nessa vida é vaidade (essa palavra em hebraico é הבלhabel – vazio, nulo – citada quase 30 vezes no livro).

Muitos comentadores se referem ao texto com um conjunto de citações de “um velho rabugento, frustrado com a vida”.

 

Mas não é sobre esses temas introdutórios que pretendo escrever aqui.  Pessoalmente, sem dúvida, olho para o texto de Eclesiastes como um documento canônico – inspirado e divinamente autorizado – logo, normativo para minha vida espiritual e social – regra de fé e prática!

Assim sendo, vou focar num fraseado que ecoou para mim essa semana a partir de uma postagem recente que vi nas redes sociais:

 

— Não seja justo demais, nem sábio demais.  Por que você destruiria a si mesmo?
(Ec 7:16)

 

E como texto sagrado, ele se revela como extremamente atualizado!

 

Num ambiente religioso onde há a pretensão de reagir – e rechaçar – o liberalismo (com destaque a questões morais e de costumes) dos tempos fluidos, o fundamentalismo investe em firmar posições cada vez intransigentes.

 

(eita!! Essa frase ficou bem teórica – vou refazer)

 

Hoje em dia, em cada conversa, em cada citação, em cada pregação, em cada postagem, em cada zap, parece que estão levantando bandeiras de batalhas, defendendo verdades imutáveis, divinas e eternas.

Guardiãs da moralidade, da justiça, da verdade – gente “de bem” – sempre se apresentam como baluartes de valores sagrados.

 

(Atenção: eu não confundo o religioso com o fariseu!)

 

É aqui que o texto bíblico se revela como extremamente atualizado!  Em tempos onde diferentes justiças e verdades digladiam por primazia.  Em tempos de fake news com validade de conveniência.  Em tempos de embates entre cosmovisões (não achei outra palavra para essa frase!).  Nesses tempos, a Palavra continua eterna e suas lições relevantes.

 

O mestre bíblico – o qohelet – instrui com convicção:

 

— Não seja justo demais.  Não seja intolerante com seu senso de justiça.  Não queira ser o martelo da justiça do mundo (os latinos diriam: malleo mundi).  Não seja zeloso demais com o que é certo.  Não seja chato.  Ouse abrir exceções!  Ouse deixar a vida simplesmente fluir!

— Não seja sábio demais.  Não seja o critério da verdade e da sua interpretação.  Não queira ser o detentor de toda a sabedoria e verdade.  Não seja sisudo demais com o que é certo.  Não seja chato.   Ouse não saber!  Ouse aprender!

— Afinal, atitudes assim corrompem a vida e atraem a morte.  Pessoas e sociedades definham e falecem com excesso de justiça e de verdade.  Isso é fatal!

 

Então, minha atenção é atraída necessariamente a Cristo – fundamento primário de nossa fé.  Se, em nome do meu cristianismo, eu postulo justiças e conhecimentos que seriam estranhos ao Jesus de Nazaré, alguma coisa está muito errada.

Jesus foi justo – mas deu abrigo aos injustos e pecadores em seu grupo mais íntimo.  ELE disse: “vá e não peque mais” – mas só depois de ter dito: “eu também não lhe condeno”. 

 

Ouse não ser nem justo demais, nem sábio demais!  Ouse ser apenas cristão!

 

terça-feira, 26 de março de 2024

ATÉ A CRUZ



Seguindo a narrativa de Lucas, preso à traição, Jesus foi julgado pelo menos quatro vezes: pelo Sinédrio sob a acusação de blasfêmia; por Pilatos, acusado de agitação social e política; por Herodes, sendo por este desprezado e novamente por Pilatos que, mesmo não encontrando crime, cedeu à pressão dos acusadores e entregou Jesus ao martírio.

Em todos estes julgamentos, o mais importante a se destacar é que Jesus era justo.  Ele morreu sem culpa ou pecado.  Isto foi inclusive reconhecido pelo malfeitor que o acompanhou na cruz (confira Lc 23:41) e pelo centurião na hora da morte (24:47).

A morte de Jesus não foi resultado de seus erros e crimes, mas para levar a efeitos os planos de Deus e cumprir as profecias, e por fim tomar posse definitiva de sua glória (observe o que o próprio Cristo disse no caminho de Emaús em Lc 24:26-27).

Outro detalhe a ser notado é que no trajeto final até a cruz, seus discípulos mais próximos estiveram ausentes, mas um grupo fiel de mulheres não o abandonou, lamentando o ocorrido (leia Lc 23:27).  Elas que acompanharam o ministério de Jesus desde o início (reveja Lc 8:1-3) e depois testemunharam a ressurreição (em Lc 24:1-3) não foram ignoradas por Jesus neste momento de dor (leia 23:27-32).

 

O método de execução por crucificação praticado pelos romanos era extremamente cruel e humilhante.  O sentenciado era pregado em um madeiro e ali ficava exposto ante à vergonha pública enquanto sentia suas últimas forças vitais irem embora lentamente.

Foi num instrumento assim que Jesus morreu (a narrativa da crucificação encontra-se em Lc 23:33 em diante).  Levado ao monte Calvário, Jesus foi preso à cruz sob o olhar de todos.  Contudo as reações foram as mais diversas: o povo apenas observava com curiosidade; as autoridades e o soldados zombaram, e dos dois malfeitores que também foram crucificados, um blasfemou e o outro suplicou por clemência.

Mas é preciso destacar e procurar compreender as palavras e atitudes de Jesus naquela hora fatal.  A grandeza do homem que é Deus esteve estampada em cada uma delas.

Logo ao chagar ao lugar do sacrifício e estar preso ao madeiro, Jesus se dirigiu ao Pai pedindo perdão para aqueles que o matavam (leia Lc 23:34).  É nesta hora que Jesus demonstrou todo o amor e cuidado por aqueles que precisavam de seu perdão, por estarem ignorantes no que faziam.

Para o malfeitor arrependido, Jesus lhe abriu as portas do paraíso (em Lc 23:43).  Esta era a razão principal de sua missão, atrair pessoas para o convívio eterno com Deus.  E ele não negaria a um pecador arrependido.

E com o último suspiro, Jesus entregou seu espírito ao Pai (em Lc 23:46).  Com tal declaração, ele estava anunciando sua fidelidade absoluta ao Deus todo-poderoso que julga e redime os seus.

Há uma ironia, contudo, que deve ser notada na cruz.  O título estampado sobre Jesus – como era costume romano fazer, declarando a culpa do sentenciado – é a mais perfeita verdade do evangelho: Este é o Rei dos Judeus (Lc 23:38).


(A partir da Revista "Lucas" – Editora Sabre)

 

terça-feira, 19 de março de 2024

AS VISÕES DE DANIEL – o destino da Pérsia



No primeiro ano de Dario, Daniel se levantou para declarar ao rei sobre o destino da nação (11.1,2).

Segundo Daniel, estava destinada para a Pérsia uma sucessão de três reis (11.2) e, quando o quarto chegasse, o reino seria desfeito e dividido entregue a outros que não eram herdeiros do trono (v. 4), vindo depois várias guerras em sequências (v. 5-30) que culminariam com a interrupção do holocausto contínuo e o estabelecimento da “abominação assoladora (v. 31).

Isso porque esse rei não teria respeito pelos deuses de seus pais, e se engrandeceria acima de tudo (11.37), estendendo seu poder sobre muitas nações (v. 42). Mas, apesar de todo esse poder, seu destino estava selado: “o seu fim virá, e ninguém o socorrerá” (v. 45).

Quanto ao povo de Deus, aqueles “cujo nome estiver escrito no livro” (12.1), mesmo com toda oposição e tribulação, ficou a garantia de que o príncipe Miguel se levantaria em seu favor.

E como resultado desse livramento, ocorrerá ressurreição dos que dormem (12.2) e a promessa de que os “sábios resplandecerão como o fulgor do firmamento” (v. 3).

Daniel ficou curioso: “Quanto tempo haverá até o fim destas maravilhas?” (12.6). Então a resposta lhe veio, como um juramento por aquele que vive eternamente, atestando que, passado algum tempo, “todas estas coisas se cumprirão” (v. 7).

Embora as tribulações na passagem do tempo possam até parecer duras e longas, mas Daniel compreendeu e creu que no final a promessa e garantia da vitória seria o que lhe sustentaria até receber a herança no final dos dias (12.13).

CONCLUSÃO

As visões finais de Daniel foram enigmáticas e assustadoras, mas em cada uma delas Deus o confortou com a garantia de que mesmo em meio a qualquer luta, a promessa de que o Senhor trará a vitória para seu povo é certa.

(Da revista “COMPROMISSO” – Convicção Editora – Ano CXVII – nº 468)

 


Leia mais sobre AS VISÕES DE DANIEL –
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terça-feira, 12 de março de 2024

AS VISÕES DE DANIEL – a 4ª visão



Mais uma vez Daniel esteve chorando diante do Senhor e, no terceiro ano de Ciro, uma nova visão lhe chegou (10.1-4). Desta vez, às margens do rio Tigre, o profeta viu “um homem vestido de linho e com um cinto de ouro fino” (v. 5).

Da mesma forma que nas visões anteriores, Daniel ficou assustado (10.8), porém, dessa vez também, ele foi tocado e confortado (v. 10). E, ainda mais uma vez, ele soube que suas orações tinham sido ouvidas desde o primeiro dia em que aplicou o coração a compreender e a se humilhar diante de Deus (v. 12).

Nesta visão ele soube que, mesmo que embates espirituais tenham acontecido por algum momento, o suporte sempre foi certo (10.13). Então, fortalecido na confiança, Daniel foi instruído sobre o seu significado e que ela se referia a “dias ainda distantes” (v. 14).

Daniel, contudo, continuou com o rosto em terra, porém ainda o ser que parecia um homem voltou a o reanimar: “Não temas, homem muito amado! Paz seja contigo! Sê forte e tem bom ânimo” (10.19).

(Da revista “COMPROMISSO” – Convicção Editora – Ano CXVII – nº 468)



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terça-feira, 5 de março de 2024

AS VISÕES DE DANIEL – a 3ª visão



Iniciando o reinado de Dario, o profeta Daniel foi buscar nos livros o registro daquilo que o Senhor já tinha falado aos profetas sobre as desolações de Jerusalém (9.2).

Tendo entendido a situação do povo, segundo a leitura, Daniel logo se voltou para o Senhor com orações, jejuns e quebrantamento (9.3).

Quando o homem de Deus conhece as palavras contidas na Lei e nos Profetas e percebe a situação do seu povo, sua oração é correta e sincera. Assim, Daniel, na sua oração: a. Começou reconhecendo a grandeza, fidelidade e misericórdia de Deus (9.4); b. Confessou seus pecados e os do povo (v. 5,6); c. Continuou insistindo na súplica por restauração, baseada nas ações do próprio Deus (v. 7-18); e d). Clamou por perdão (v. 19).

Por crer que “ao Senhor, nosso Deus, pertencem a misericórdia e o perdão” (9.9) Daniel foi capaz de entregar sua súplica diante da face do Senhor confiando que Deus atenderia e agiria sem tardar (v. 18).

 E a resposta veio, junto com toque de Gabriel – o homem da visão anterior (9.21). A sua instrução seria para “dar sabedoria e entendimento” a Daniel (v. 22). E ainda uma palavra de conforto com a afirmação de ser ele, o profeta, muito amado e que suas súplicas já teriam sido ouvidas desde o princípio (v. 23).

Este foi o entendimento da visão. Se os anos de desolação, conforme predito pelo profeta Jeremias, “durariam setenta anos” (9.2), então assim, no entendimento do simbolismo numérico, setenta semanas estariam decretadas sobre o povo (v. 24).

Nesse meio tempo, porém, enquanto as semanas estiverem acontecendo, rebeliões e desgraças contra o povo ungido ainda haveriam de ocorrer (9.26). Pois, mesmo Jerusalém sendo reedificada, esses seriam “tempos difíceis” (v. 25).

Daniel, contudo, deveria entender que a finalidade das setenta semanas decretadas não seria trazer apenas desgraças, mas “para fazer cessar a transgressão, para dar fim aos pecados e para expiar a iniquidade e trazer a justiça eterna, e selar a visão e a profecia, e para ungir o santíssimo” (9.24).

Esse foi exatamente o teor da súplica do profeta Daniel ao ler as Escrituras e comparar com a situação do seu povo: que o Senhor trouxesse restauração.

(Da revista “COMPROMISSO” – Convicção Editora – Ano CXVII – nº 468)

 



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