Recentemente postei uma reflexão sobre TESTANDO DEUS (veja
no link).
Ali para fundamentar aquela reflexão eu fiz uma busca nas palavras dos
originais das frases mais relevantes – em geral faço sempre assim).
Então resolvi aqui compartilhar um pouco da
pesquisa. Penso que pode enriquecer a
exegese dos textos. Aí vai.
O
primeiro texto é o da tentação de Jesus no deserto – no Evangelho de Mateus.
Mt
4:7 – Jesus lhe respondeu: “Também está escrito: ‘Não ponha à prova o
Senhor, o seu Deus’” (NVI).
A
frase no destaque em Grego –
Οὐκ
ἐκπειράσεις Κύριον τὸν Θεόν σου.
O
verbo grego é ἐκπειράζω – formado da preposição ἐκ + verbo πειράζω – no futuro
indicativo ativo, 2ª pessoa do singular.
Na
forma sem preposição, o NT usa mais de quarenta vezes e a LXX outras 55.
Nessa
forma preposicionada aparece no NT Grego em apenas quatro citações:
Aqui
em Mt 4:7
Em
Lc 4:12 – o sinótico paralelo
Em
Lc 10:25 – quando um perito decide investigar Jesus
E
em 1Co 10:9 – onde Paulo, numa série de recomendações, instrui a não pôr o
Senhor à prova.
Essa
é a opção que a LXX usou para traduzir Dt 6:16 – de onde o próprio Jesus foi
buscar a citação de Mateus – inclusive a inflexão verbal.
No
clássico helênico antigo, a palavra era usada para descrever a ação de um teste
completo feito no intuito de se conhecer algo.
Há outros verbos gregos com sentidos próximos
usados no Novo Testamento, como por exemplo: ἐξαπατάω – em Rm 16:18 e 2Co 11:3. Mas aqui o sentido é de sedução e traz a
conotação de ação maliciosa para induzir o erro.
Vamos a citação no Antigo Testamento. O texto é Dt 6:16, onde a instrução é não
repetir o erro de Massá e Meribá (numa referência retroativa ao episódio citado
em Êx 17).
Em hebraico as palavras do Deuteronômio são:
לא תנסו את־יהוה אלהיכם כאשר
נסיתם במסה׃
O verbo em destaque é נסה que nesse versículo está no piel imperfeito –
2ª pessoa masculino plural.
Esse verbo ocorre cerca de 36 vezes no texto
hebraico em textos como 1Sm 17:39; 1Rs 10:1; Sl 26:2 e Dn 1:12 (aqui no
imperativo), por exemplo.
Um detalhe é que, em todas as citações, o
sujeito é sempre um agente humano ou o próprio Deus.
O sentido implícito que os dicionários nos
oferecem para o entendimento do verbo é: “usar um objeto para verificar o
resultado ou para testar sua aptidão”.
Assim, ligando os sentidos indicados nas expressões
em hebraico e grego podemos compreender a instrução bíblica de não levar Deus –
usando linguagem moderna – a um laboratório na tentativa de fazê-lo objeto frio
de estudo isento de relacionamentos.
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