quarta-feira, 9 de abril de 2025

NO JARDIM DO GETSÊMANI

 


O evangelista João nos diz que depois de ter dito as instruções finais aos seus discípulos, Jesus foi ao Jardim do Getsêmani, um horto no sopé do Monte das Oliveiras, nas cercanias de Jerusalém, na época famoso pela produção de azeite. 

Jesus foi ali para desfrutar de relativa paz em meio ao barulho da cidade.  Naquele lugar Jesus costumava orar (leia Jo 18:1).

Judas Iscariostes, um dos doze, que também conhecia o lugar e hábitos de Jesus, juntou uma escolta e foi buscá-lo, colocando em execução o plano de traição.  Jesus, porém, por duas vezes se adiantou e perguntou: quem buscais? (veja nos versos 4 e 7).  Apresentando-se em seguida.

Para esta situação, João fornece uma explicação.  Jesus Cristo é o Senhor da história e nada que acontece foge do seu domínio e controle.  Ele mesmo já havia dito isso, inclusive sobre o próprio momento de morte: eu dou a minha vida para reassumir (Jo 10:17). 

Na passagem, o Evangelho enfatiza que o Mestre sabia de tudo o que estava acontecendo (observe Jo 18:4).  E ainda no jardim, Jesus repreendeu Pedro assumindo que seu destino era beber o cálice que o Pai lhe preparou (confira Jo 18:11).  É como se confessasse que foi para aquilo que ele viera, tinha consciência e continuava no comando da situação.

Sobre Pedro inda, neste episódio do Getsêmani, o texto diz que ele, com a própria espada, tentou defender Jesus daqueles que o prendiam, mas foi novamente repreendido pelo Mestre (vá a Jo 18:10-11).  Afinal não seria pelas armas humanas que Jesus passaria por aquela situação nem que chegaria à vitória.

(Na imagem lá em cima: uma foto atual do Horto do Getsêmani.  Fonte: Google Maps)

 

terça-feira, 1 de abril de 2025

HÁ UM MOMENTO PARA ESTAR SÓ


Num tempo cristão de quaresma, quando caminhamos em direção ao Calvário, é importante seguir os passos de Jesus e buscar um momento para estar só.

Reflexão baseada em Jesus no Getsêmani (Lc 22:41). Ali ELE buscou estar só, voluntariamente, onde sua alma aquietou-se na presença do PAI.

 

terça-feira, 25 de março de 2025

BATISMO NO ANTIGO TESTAMENTO?

 


Esse é um tema bastante interessante e abrangente, principalmente para nós batistas que cuidamos do batismo como algo relevante em nossa compreensão cristã.

 

Antes de chegar ao texto aos Coríntios que você citou, penso que é interessante entender o que citamos como batismo.

 

O dicionário define o termo batismo como “ritual de purificação ou iniciação em que se mergulha em água a pessoa a ser batizada” ou ainda “ato ou efeito de ser admitido num grupo, partido, religião” (infopedia).

 

Sobre como nós batistas compreendemos o ritual e a importância do batismo, sugiro a leitura dos artigos escritos pelo Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho: “O Batismo Consciente de Crentes” (link) e “Batismo e Ceia como Ordenanças e não como Sacramentos” (link).  Ainda como sugestão, uma resposta minha sobre esse tema pode ajudar na reflexão: “Sobre a Autoridade no Batismo” (link).

 

Outra informação para enriquecer:  no grego do NT os termos relativos são:

 

+ Βαπτισμός – substantivo que traduz literalmente imersão; descreve o ato de mergulhar.  Em Cl 2:9 Paulo usa essa palavra para se referir ao símbolo do sepultamento contido no ritual do batismo.

+ Βάπτισμα – esse substantivo indica a pessoa que mergulha.  Lucas (em 3:3), usa esse termo para indicar o batismo de João como resultado do arrependimento.

+ Βαπτίζω – o verbo batizar, mergulhar, imergir é usado cerca de 90 vezes no NT.  É esse verbo que Paulo usa no texto de Coríntios.

+ No AT não encontramos nenhuma palavra ou expressão que indique algo assim.  Talvez os regulamentos sobre as lavagens rituais de purificação em Levítico (veja por exemplo Lv 15:27 ou 17:16), mas, com certeza, o contexto e as implicações são diversos. 

 

Também:  no conceito que temos como batistas – a partir da leitura bíblica – não houve batismo no AT.  Tal prática começou no período entre os Testamentos, era praticado por diversos grupos contemporâneos, foi adotado a partir de João, ordenado por Jesus a partir de sua própria interpretação e se tornou padrão na igreja primitiva (sugiro ainda a leitura do artigo: “A Didaqué e o Culto" – link).

 

 

Assim, vamos ao texto citado.

 

A partir do capítulo 10, o apóstolo Paulo está argumentando que não se deve tentar a Deus, duvidando dele e nem desconsiderando suas manifestações.  E para isso ele usa dos exemplos históricos dos israelitas.

Aqui a figura do batismo serve de exemplo.  Os filhos de Israel estiveram cobertos pelas manifestações divina – como nos casos da passagem do mar ou da nuvem que os cobriu (mergulhados nas águas divinas!), bem como comeram do pão espiritual e beberam da água da pedra.

Ora, apesar de todas essas sinalizações, os israelitas provocaram o desagrado de Deus com suas murmurações e, por isso, foram prostrados no deserto.

 E tudo isso, na argumentação apostólica, deveria servir como exemplo e aviso para nós cristãos que, mesmo tendo sido batizados em Cristo, não devemos tentar o Senhor com nossas murmurações e incredulidade.

 

Ao que Paulo conclui:

 

“Quem pensa que está firme em pé, fique atento para não cair”
(1Co 10:12)

 

 

terça-feira, 18 de março de 2025

MISOGINIA – os judeus e Jesus



Definindo o termo misoginia: segundo o Dicionário, misoginia significa “ódio ou aversão às mulheres”.  Eu uso aqui com uma extensão a qualquer postura ou atitude que desconsidere a mulher ou a menospreze como ser inferior em sua humanidade.

 

Em relação às perspectivas e papéis femininos na sociedade contemporânea de Jesus, é importante conhecer como as ideias se formaram em meio àquela gente.  O preconceito contra a mulher entre os judeus passou a se tornar um problema a partir do exílio babilônico, e em especial na sua volta para Jerusalém (século V a.C.).  Ali eles desenvolveram uma mentalidade extremamente machista, relegando à mulher apenas uma situação subalterna.

Sob a liderança da casta levítico-sacerdotal, os judeus refizeram os termos da aliança feita com Deus, reinterpretaram os textos antigos e desconsideraram as mulheres enquanto agentes sociais e religiosos (considere Ed 10:1-5 – e lembre que Esdras era sacerdote). 

Começando nesse período, e se intensificando no período entre os testamentos, a produção de exegese e comentários rabínicos passou a dar justificativa religiosa e jurídica a uma série de comportamentos e atitudes contrários, e até ofensivos, à mulher.  Com isso, a mulher findou sendo tratada apenas como um produto ou objeto a ser possuída, comprada e vendida (um bem para reprodução), sem qualquer direito diante dos homens, que poderiam dispor delas como bem entendessem.

 

Um parêntese para ajudar a entender essa mentalidade.  Ao narrar a ocorrência da mulher apanhada em flagrante adultério (em Jo 8:1-11), os acusadores da pecadora omitem – propositadamente ou não(!) – a presença do homem com quem a mulher estaria adulterando, pois os mestres da Lei, além de terem a intenção de apanhar Jesus numa armadilha, mantinham uma atitude de desprezo em relação à mulher, baseada nas suas interpretações próprias da Lei.  E essa compreensão parece dar um contexto compreensivo ao episódio.

 

No caso da samaritana, diante do poço de Jacó, tanto Jesus como a mulher conheciam bem os preconceitos que estavam inseridos nos padrões sociais em que eles viviam.  Padrões sociais assim fazem parte de uma espécie de subconsciente comum que estabelece como deve funcionar a coletividade “normal” dando a cada indivíduo o seu lugar, posição e papel a desempenhar na sociedade. 

Independentemente de haver leis escritas que rejam tais atitudes e práticas, esses preconceitos se tornam tão arraigados numa cultura que se comportam como um ethos – um padrão de moralidade esperado de todos e pelo quais todos na comunidade são julgados e avaliados.

 

Aqui então destaco o posicionamento de Jesus.  Enquanto a mulher samaritana apenas aceitou com resignação seu lugar e papel na sociedade – por isso ficou perplexa com a atitude do estranho judeu –; Jesus desconsiderou e até rejeitou toda e qualquer atitude preconceituosa que ofendesse a dignidade humana da mulher.

Para Jesus, um padrão social que despreze, torne-a indigna ou descaracterize a mulher, por afrontá-la enquanto ser humano, qualquer que seja a manifestação, justificativa jurídica ou religiosa ou forma de preconceito, afronta também o Criador que as ama de tal maneira, logo é pecado.

 

quarta-feira, 12 de março de 2025

A BÍBLIA E A MULHER – 2ª parte


Comecei a publicar sobre o tema da Bíblia e a Mulher, que você pode ler no link.  Agora prossigo a refletir sobre o assunto.  Continue lendo...

 

 

Nos Evangelhos, está claro quando diz que Jesus veio buscar e salvar o que se havia perdido e trazer a novidade de que as mulheres opressas poderiam ter sua dignidade restabelecida – como tinha sido o projeto divino para antes do pecado (considere Lc 4:18-19 e 19:9-10).  Ao redimir os seus do pecado – e de seus efeitos – o Salvador também restabeleceu o padrão original do Criador.  Foi para que homens e mulheres tenham vida, liberdade e dignidade que Jesus os resgatou por inteiro.

Ainda merece citação a instrução contida na primeira carta de Pedro sobre a posição da mulher e como ela deve ser tratada pelos homens cristãos:

 

Vocês, também, homens considerem suas mulheres como um vaso delicado e convivam com elas atribuindo-lhes honra pois são igualmente herdeiras da graça da vida, a fim de que suas orações não sejam interrompidas. (1Pe 3:7)

 

No texto apostólico, mesmo diante de uma circunstancial fragilidade e delicadeza feminina, a instrução é direta ao colocar a mulher como igualmente herdeira da graça.  Ou seja, a posição e papel da mulher nos parâmetros do cristianismo tem que ser o mesmo do homem pois ambos – homem e mulher – estão num mesmo plano espiritual em relação à graça que vem do Salvador. 

E mais: ao desconsiderar essa posição de honra da mulher, as orações, ou qualquer outra disciplina espiritual, torna-se inválida, pois o autor bíblico atrela necessariamente a vida devocional do homem fiel com a maneira como ele trata, honra e valoriza a mulher.

 

Hoje a igreja de Cristo tem em seu rol homens e mulheres que vivem em meio a uma sociedade que muitas vezes e de diversas maneiras reproduz posições e atitudes pecaminosas e misóginas que desvalorizam a mulher enquanto parte da criação de Deus e membros da família humana.  Então essa igreja precisa aprender do Mestre Jesus como se portar, e qual valor dar às suas mulheres. 

E como Jesus fez com a samaritana, é preciso dar vez e voz às mulheres, fazendo da graça uma manifestação que supere qualquer ranço de pecado e separação que desvalorize ou inferiorize a imagem de Deus.

 

Você pode ler mais sobre a mulher aqui no Escrevinhando:

MISOGINIA– os judeus e Jesuslink

MULHERES NA BÍBLIAlink

SETE MULHERES DA BÍBLIAlink

NO PRINCÍPIO – a obra primalink

SOBRE A DIGNIDADE – em Pv 31:25link

 

E ver no YouTube:

SOBRE JESUS E A MULHER ADÚLTERAlink

 

terça-feira, 11 de março de 2025

A BÍBLIA E A MULHER – 1ª parte



Na perspectiva bíblica, logo no seu capítulo inicial pode ser lido que ao criar o ser humano Deus os moldou à sua imagem e semelhança.  E essa imagem e semelhança divina foi dada igualmente a ambos – macho e fêmea (em Gn 1:27).  Dessa forma, fica claro que no projeto inicial de Deus para a humanidade, embora fisicamente diferenciados em sexos, não deveria haver distinção em relação a sua dignidade pois ambos refletiriam a beleza da imagem e semelhança do Criador.

E embora o capítulo dois de Gênesis se ocupe em descrever de maneira diferenciada a criação de cada um dos gêneros humanos, isso não pode desconsiderar – ou sequer conflitar – com a verdade já exposta em Gn 1:27.  E entendo que aqui está inclusive a força da imagem de Deus na humanidade.  Aqui é dito que “não é bom que o homem esteja só” (no verso de 2:18), por isso o homem precisaria de “uma ajudadora que lhe seja idônea” (no mesmo verso); para que ambos e juntos possam refletir igualmente uma imagem melhor (duplamente boa!) de Deus.

Um detalhe: no texto em sua língua original, o termo para se referir aqui à mulher como ajudadora (ou auxiliadora no Gênesis) é a mesma que o Salmo usa para se referir a Deus como nosso auxiliador e protetor (confira o Sl 33:20).  Ou seja, não há, na expressão, nenhuma conotação de preconceito, rebaixamento, misoginia ou desprestígio da mulher em seu lugar na ordem criada.  Ela tem seu lugar e valor, e deve sempre ser assim tratada.  Ainda que eventualmente esteja colocada em papel diferente do masculino, mas para Deus a mulher nunca será inferior, subalterna ou menosprezada.

Com o pecado, porém, isso foi alterado.  A consequência da desobediência original foi o desarranjo total de tudo o que Deus planejou para sua criação.  Então é certo compreender que qualquer posicionamento e atitude que desqualifique a mulher é pecado – e resultado deste – pois vai contra o plano e vontade de Deus.

 

Voltando às narrativas bíblicas, é possível observar que, mesmo em contextos de pecado e decadência, o Senhor nunca abandonou sua visão da mulher nem a relegou a uma posição de irrelevância, nem de alienação.  Veja alguns exemplos:

 

Antes do reinado em Israel, o único nome que acumulou as funções de líder espiritual e chefe político-militar foi a juíza Débora (Jz 4).  Também, em um tempo quando homens como Jeremias já exerciam seu ministério, Hulda foi a profetiza escolhida para interpretar corretamente o texto encontrado (em 2Rs 22:14 e 2Cr 34:22).  E no Novo Testamento, o Evangelho de Lucas registra pelo nome três mulheres que acompanhavam o ministério de Jesus: Maria de Magdala, Joana mulher de Cuza e Suzana (Lc 8:2-3).  Além de constar em Hb 11 os nomes de Sara e Raabe no rol de heróis da fé.

Importante também destacar que foi às mulheres que Jesus se mostrou em primeiro lugar quando de sua ressurreição (confira Lc 24 e Jo 20).

 

Certamente, contudo, no Antigo Testamento, é na narração da mulher virtuosa onde o texto apresenta o reconhecimento do valor da mulher – acima de rubis (confira toda a exposição a partir de Pv 31:10).  Pela descrição do texto, o valor da mulher está em fazer o bem, cuidar da família e dos filhos, mas também – e principalmente – abastecer de provisões sua casa, administrar com lucro os negócios dentro e fora de casa, gerenciar as propriedades, falar com sabedoria e ser um referencial para seus filhos. 

Uma mulher assim – como percebida no projeto de Deus – o texto reconhece que força e a credibilidade lhe são como vestido; e ela já celebra o dia de amanhã (Pv 31:25).

 

 Continue a ler sobre o tema da Bíblia e a Mulher no link.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

A oração de um profeta menor

Ó Senhor, tu me chamaste para uma grande missão! Ó Senhor, meu Senhor, tu te aviltaste honrando-me como teu servo.  Tu me ordenaste teu mensageiro, Deus meu, não perderei tempo deplorando minha fraqueza nem minha incapacidade para a obra.  Quem sou eu para argumentar contigo ou duvidar de sua soberana escolha? A tua vontade seja feita e não a minha. 

Ó Deus, os falsos pastores andam por toda parte, negando o perigo e rindo dos riscos que o teu rebanho corre.  As ovelhas estão sendo enganadas por esses mercenários e os seguem com lealdade tocante enquanto o lobo se aproxima para matar e destruir.  Suplico-te, ó Deus, dá-me olhos penetrantes para perceber a presença do inimigo; dá-me entendimento para observar e coragem para contar fielmente o que vejo.  Torna minha voz tão idêntica à tua que até mesmo as ovelhas doentes a reconheçam e te sigam. 

Senhor Jesus, aproximo-me de ti para receber preparo espiritual.  Impõe sobre mim a tua mão.  Unge-me com o óleo do profeta do Novo Testamento.  Salva-me da maldição da imitação e do profissionalismo que paira sobre o pastorado moderno.  Cura minha alma das ambições carnais e salva-me da atração da publicidade.  Livra-me da escravidão às coisas.  Não permita que desperdice meus dias com trivialidades.  Ensina-me a autodisciplina para que possa ser um bom soldado de Cristo. 

Embora escolhido por ti e honrado por um chamamento sublime e santo, não permita que eu jamais esqueça que não passo de pó e cinzas, um homem que com todas as falhas e paixões naturais que perseguem a raça humana. 

E agora, Senhor do céu e da terra, consagro o restante de meus dias a ti; sejam eles muitos ou poucos, conforme a tua vontade.  Sou teu servo e essa vontade é para mim mais doce que posição, riqueza ou fama.  Amém.  AMÉM. 

A.W.  Tozer

 

terça-feira, 18 de fevereiro de 2025

SOBRE O PLURAL DE MAJESTADE

 


Vamos olhar o texto e pensar teologicamente um pouco:

 

Sobre o plural de majestade, esse conceito latino do uso do verbo no plural é bem aceito por alguns exegetas.  Mas também é preciso tomar cuidado aqui pois o verbo אמר (dizer – disse) usado no verso de Gn 1:26 e em todo o capítulo, mesmo se referindo ao Deus majestoso, está no singular.  Da mesma forma o verbo ברא (criar – criou) no verso Gn 1:1.

É interessante também observar que esse fraseado plural só é encontrado aqui no texto Hebraico do AT.

 

Em relação ao conceito de Trindade aplicado à expressão do verso 26.  Embora eu creia na doutrina cristã que expressa um Deus manifestado em Três Pessoas (e há bons textos bíblicos que apontem nessa direção), mas vê-lo aqui é um pouco forçado.

 

Talvez a resposta mais simples seja a melhor (como sempre em Teologia!): na forma poética do texto bíblico, o autor evita um imperativo singular – a Deus não se dá ordem, nem como recurso literário – então preferiu uma flexão plural em primeira pessoa para indicar a disposição divina em moldar o ser humano. 

O Criador nos fez de modo singular e proposital para o louvor de sua glória (posso alinhar minha compreensão aqui a Ef 1:12 e Is 44:7).  Uma tradução moderna que talvez consiga expressar melhor esse conceito plural/singular seja em língua inglesa: “Let us make ...”

 

 

Para enriquecer sua compreensão do tema, permita-me duas outras sugestões de leitura:

 

DEUS É UMA UNIDADE COMPOSTA?
Num post aqui no Escrevinhando, com base em Dt 6:4, faço uma análise teológica/exegética da divindade cristã que se apresenta ao mesmo tempo como três e como um – acesse o link

 

No meu livro ENSAIOS TEOLÓGICOS há um artigo sobre O Nome de Deus e o Culto do Antigo Testamento que tangencia esse tema.  Pode ajudar na compreensão – ele está disponível no Amazonlink

 

terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

ENDIREITAI O CAMINHO

Em toda palavra profética, junto à denúncia do pecado perante Deus, vem também uma palavra que aponta para conforto e esperança. O objetivo divino em ordenar sua palavra aos profetas, nunca é apenas se vingar ou castigar o povo derramando sua ira, mas é os chamar ao arrependimento, trazendo-os de volta à comunhão.

Assim também foi com a profecia de Jeremias. Ele denunciou o quadro triste em que o povo vivia, mas, mesmo aqui, uma palavra de chamada ao retorno ficaria evidente:

“Assim diz o SENHOR dos Exércitos, o Deus de Israel: Endireitai os vossos caminhos e as vossas ações, e vos farei habitar neste lugar” (7.3). Esse sempre foi o objetivo do Senhor ao enviar seus profetas: fazer com que o povo tivesse oportunidade de corrigir suas rotas e se voltarem para ele.

Certamente o castigo pelo pecado é a sua consequência inevitável. Sempre haverá, contudo, uma promessa que acompanha à sentença: “pois assim diz o SENHOR: Toda esta terra ficará destruída; mas não a consumirei totalmente (4.27).

Mas nessa relação de anúncio profético, castigo e esperança, algumas condições deveriam ser observadas.

Começando pela sinceridade do coração. Se a palavra do profeta é sempre um chamado ao arrependimento e à volta ao Senhor, esse movimento não pode ser feito com falsidade. Por isso o chamado é sempre para que haja um coração verdadeiro e sem fingimento diante de Senhor (3.9,10) e nem falsidade nas palavras (5.2). Ou seja, que a verdadeira aliança aconteça nos corações e não apenas como ritual exterior (4.4).

Então, como isso deverá acontecer? Eis a relação de atitudes que são requeridas pelo Senhor: “Mas se de fato endireitardes os vossos caminhos e as vossas ações; se realmente praticardes a justiça entre um homem e o seu próximo; se não oprimirdes o estrangeiro, o órfão e a viúva, nem derramardes sangue inocente neste lugar, nem seguirdes outros deuses para vosso próprio mal, então eu vos farei habitar neste lugar (7.5-7).

Deus continua tendo interesse em atrair e corrigir seu povo. Nunca foi a vontade do Senhor apenas derramar sua ira como um ato punitivo e vingativo. Ele é amor e isso deve estar sempre presente nas palavras proféticas.

 

(A partir da revista “COMPROMISSO” – Convicção Editora – Ano CXVII – nº 468)

  

No mesmo tema, sugiro ampliar sua leitura no artigo “Por que Deus dá a profecia?” onde eu concluo que “Deus dá a profecia para que o mundo – criação conjunta de Deus e seres humanos – possa não ser abandonado à sorte do tem de ser, mas que possa ser vislumbrado sob a ótica do pode ser.”  Acesse no Escrevinhando no link.

 

terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

TOMÁS DE AQUINO – a imagem e a moeda

 


Um colega, aqui conversando aqui comigo, via zap, fez uma citação do mestre Tomás de Aquino quando o teólogo apresentou uma analogia entre a imagem de Deus e a moeda romana com a imagem de César.

Na conversa, ofereci uma reposta para manter o diálogo, mas depois fiquei com o assunto na cabeça.  Tenho pesquisado sobre o tema, pois pretendo escrever um livro sobre os capítulos iniciais da Bíblia.

Então aqui vai um misto do que eu respondi no zap com algo que pesquisei depois.

 

Antes.  Sobre o pensador.  Tomás de Aquino foi um filósofo/teólogo da Escolástica católica que viveu e escreveu no século XIII na região de Aquino – centro da Itália.  Sua abordagem filosófica foi de linha aristotélica e tratava a própria Teologia como uma ciência.

 

Quanto a citação de Tomás de Aquino, o que achei nas minhas pesquisas, folheando a “Suma Teológica” (a edição que uso aqui tem mais de quatro mil páginas) diz ipsis litteris:

 

 “Tanto no homem como na mulher está a imagem de Deus, quanto a aquilo em que, principalmente, consiste a essência da imagem, a saber, a natureza racional” (Questão 93 – art. 4).

“Diz-se que o homem é a imagem de Deus, não por ser essencialmente imagem, mas por trazer no espírito impressa tal imagem; assim como se diz que a moeda é a imagem de Cesar, por ter a imagem deste. Por onde, não é necessário introduzir a imagem de Deus em qualquer parte do homem” (Questão 93 – art. 6).

 

Aproveitando a pesquisa: encontrei no site do Vaticano:

 

Em Tomás de Aquino, a imago Dei possui uma natureza histórica, enquanto passa por três fases: a imago creationis (naturae), a imago recreationis (gratiae) e a imago similitudinis (gloriae) (S. Th. I q. 93 a. 4). Para o Aquinatense, a imago Dei é o fundamento da participação na vida divina. A imagem de Deus se realiza principalmente em um ato de contemplação no intelecto (S. Th. I q. 93 a.4 e 7).

 

Minhas considerações a partir do argumento do teólogo latino:

 

A analogia de Tomás de Aquino, comparando uma moeda com a imagem de Deus (Imago Dei em latim como usou o teólogo italiano), pode enriquecer bastante a compreensão – embora seja uma exegese tardia.

Porém, não penso que o autor bíblico tivesse com tal analogia em mente quando escreveu as palavras sagradas.  Pelo contexto geral, talvez a melhor analogia seria com as esculturas de divindades dos povos ao redor que exibiam a imagem de seus deuses, enquanto que a imagem do Elohim Criador (יעש אלהים – expresso em Gn 1:7) estaria impressa na sua obra prima: o ser humano.

Lendo mais o texto de Gênesis, observo que em Gn 5:3 novamente o termo hebraico צלם (imagem) é usado junto com דמות (semelhança/modelo) para se referir ao filho gerado por Adão.  Neste caso a analogia da moeda perde mais paridade ainda.  Novamente consigo entender que o autor bíblico tem em mente a reprodução da imagem e semelhança viva (Adão gerou outra vida!) em um outro ser.

 

Em resumo, em minha Teologia, leio o poema sagrado do Gêneses querendo comparar a feitura do ser humano com os contornos divinos dando-lhe atributos que espelhassem o Criador.

 

E antes de finalizar, mais uma citação.  Dessa vez de Esteban Voth e Milton Acosta Benitez no “Comentário Bíblico Latino-Americano”:

 

 “Sugerimos que a imagem de Deus nos fala da capacidade que temos para nos relacionar com Deus.  Deus nos estampou algo que permite a ele estabelecer conosco uma relação íntima, por meio de comunicação verbal, alianças etc.”

 

(Na imagem lá em cima, uma reprodução de uma moeda romana estampada a face do Imperador Tibério – 14-37 A.D.  Fonte:  wikipedia.org)

 

terça-feira, 28 de janeiro de 2025

A igreja de Cristo vivendo a unidade do Espírito – 3ª parte


 

A IGREJA DE CRISTO VIVENDO A UNIDADE DO ESPÍRITO –
" eu vi uma grande multidão de todas as nações e língua. E clamavam dizendo: Amém. Louvor, glória, sabedoria, ações de graças, honra, poder e força ao nosso Deus, para todo sempre. Amém." Ap 7:9-12  
3ª parte da reflexão por ocasião do aniversário da PIBAF - Sergipe

 

Assista as três partes dessa reflexão no YouTube –

 1ª. Parte

2ª. Parte

3ª. Parte

 

#reflexãobíblica #igreja #cristianismo #pregação #mensagem



sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

A igreja de Cristo vivendo a unidade do Espírito – 2a. parte


 

A IGREJA DE CRISTO VIVENDO A UNIDADE DO ESPÍRITO
" e ELE distribui dons aos homens."
Efésios 4:1-6
2ª parte da reflexão por ocasião do aniversário da PIBAF - Sergipe

Assista as três partes dessa reflexão no YouTube –

1ª. Parte

2ª. Parte

3ª. Parte

 

#reflexãobíblica #igreja #cristianismo #pregação #mensagem


quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

A igreja de Cristo vivendo a unidade do Espírito - 1a. parte


A IGREJA DE CRISTO VIVENDO A UNIDADE DO ESPÍRITO

Efésios 4:1-6 / Mateus 6:25-34

1ª parte da reflexão por ocasião do aniversário da PIBAF - Sergipe


Assista as três partes dessa reflexão no YouTube –

1ª. Parte

2ª. Parte

3ª. Parte

 

#reflexãobíblica #igreja #cristianismo #pregação #mensagem 



terça-feira, 14 de janeiro de 2025

UMA CORDA PARA O SACERDOTE

 


Sobre o tema da corda amarrada ao sacerdote no momento em que ele entraria para ministrar, a resposta rápida e direta é simples: isso é lenda.  Não está na Bíblia.

 

Mas, aproveitando a oportunidade do tema, vamos aprofundar um pouco sobre o assunto – isso é possível fazer olhando por dois ângulos:

 

O primeiro ângulo é bíblico (o mais importante):

 

Como disse, não está na Bíblia nenhuma instrução ou narração que cite tal prática.  Ou seja, não tenho como lhe indicar nenhum versículo nessa direção.

Ainda assim, é interessante olhar as páginas sagradas e procurar indicações que, pelo menos, possam tangenciar o assunto: santidade no altar.

A afirmação bíblica é categórica: “O Senhor é Santo!” (absolutamente santo – observe Is 6:3 e Ap 4:8).  E o próprio Deus se apresenta em santidade, exigindo uma contrarresposta também de santidade (considere Lv 11:44 e 1Pe 1:15-16)

Sendo assim, todo movimento de culto e adoração deveria expressar essa santidade.

 

Observe mais:

Nas instruções de culto na antiga aliança, uma vez por ano, no dia da expiação, o sumo sacerdote deveria entrar no lugar santíssimo – o santo dos santos – e oferecer uma oferta específica pelos pecados do povo (instruído em Lv 16).  E, importante, havia regras especificas de comportamento sacerdotal para que cumprisse tal ritual.

No contexto, o episódio dos filhos do sacerdote Arão – Nadabe e Abiú – ofereceram fogo estranho no altar e o fogo os consumiu de imediato (a história está descrita em Lv 10).  O detalhe a se considerar nessa passagem é que aqui se passa no pátio externo do tabernáculo e o fogo referido é do incenso, e não no santíssimo nem com o fogo sagrado.

E não há sequer citação de corda.

No Novo Testamento, no episódio do anúncio feito pelo anjo ao sacerdote Zacarias (a história está em Lc 1:5-25), o sacerdote se demorou no interior no santuário e o povo, do lado de fora, apenas ficou à espera.  Também sem referência a corda alguma.

 

Um outro ângulo que podemos mirar o tema é do ponto de vista do mito, da narrativa e da história:

 

É verdade que o povo judeu sempre foi muito dado a lendas, mitos e tradições alheias à Bíblia.  E entre elas está a narração de que uma corda seria amarrada ao sacerdote no momento em que ele entrasse para ministrar, porque, se ele morresse ali poderia ser retirado. 

E essa lenda ganhou variações, a corda já foi amarrada no tornozelo ou na cintura, e já foi de couro, de ferro ou de ouro... e por vai...

Então essa história foi sendo contada e recontada até que, no século 13, judeus espanhóis consolidaram o mito passando a narrar como se fosse verdade.  E daí ficou...

 

Ainda, na descrição antiga, a roupa do sacerdote tinha penduricalhos, tipo sinos, que chacoalhavam enquanto ele se movimentava e adicionavam sons festivos à cerimônia (em Ex 28:33-34).  Talvez tenha sido daí a origem da lenda.  E só.

 

Voltando a verdade espiritual que a nova aliança nos trouxe em Jesus Cristo.  A vontade explícita de Deus é a nossa santificação (1Ts 4:3).  O autor aos Hebreus nos garante, contudo, que podemos comparecer santificados diante de Deus, uma vez que Cristo, sumo-sacerdote perfeito, se ofereceu a si mesmo como oferta por nossa redenção (leia o argumento em Hb 9).