Quando
da divisão do Reino de Israel, após a morte de Salomão (século IX a.C.), as dez
tribos do norte ficaram sob a liderança de Jeroboão, filho de Nebate, com
capital em Samaria – em oposição às duas tribos do sul que restaram sob a
controle de Roboão, filho de Salomão (a separação está narrada em 1Rs 12).
Duzentos anos depois, os exércitos da Assíria
invadiram Israel e conquistaram Samaria, sob o comando do rei Sargão II, que
registrou em seus anais:
Cerquei e ocupei a cidade da Samaria, e
levei comigo 27 280 dos seus habitantes como cativos. Tomei-lhes 50 carros, mas deixei-lhes o resto
das suas coisas.
O registro bíblico afirma que isso aconteceu
porque os israelitas adoraram outros deuses, apesar das advertências claras do
Senhor contra isso (leia em 2Rs 17:7-12).
Com a deportação dos israelitas de Samaria, e
seguindo a política de colonização assíria, a terra foi maciçamente ocupada por
outros povos que trouxeram seus costumes, línguas e, principalmente, seus
cultos e religião para o norte da região de Israel.
Pouco mais adiante na história, com a queda também
do reino do sul – levados para Babilônia no final do século VII – toda a terra
ficou sob domínio estrangeiro.
Mas o período de exílio e deportação chegou ao fim
com o decreto de Ciro da Pérsia que permitiu a reconstrução de Israel, de
Jerusalém e do seu templo (confira 2Cr 36:22-23 e Ed 1:1-2).
Aconteceu que o projeto de reconstrução liderado
por homens como Esdras, Neemias, Zorobabel e Ageu – com o expurgo dos
estrangeiros, principalmente das mulheres – não teve a adesão dos habitantes do
norte, ficando eles isolados em guetos sociais.
A situação só veio a piorar com o domínio helênico
dos selêucidas, ao estabelecer a separação entre judeus (no sul) e samaritanos
(ao norte) em províncias distintas.
Chegando à época de Jesus com uma total inimizade entre habitantes das
duas províncias.
E ainda sobre o mapa da Palestina no tempo do Novo
Testamento, uma observação importante: mais ao norte da província de Samaria,
moravam os galileus – um enclave de judeus que ficaram separados dos do sul
pela presença dos samaritanos. Esses
eram considerados como um povo pobre e de pouca cultura (em geral o termo galileu
era usado como um insulto, ou como marca de desprezo e preconceito).
Ainda havia a questão religiosa. Os judeus sulistas (assim como os galileus)
em geral estigmatizavam os samaritanos por os considerar impuros quanto aos
rituais da Lei, logo, indignos de frequentaram os ambientes sagrados das
sinagogas e do templo central em Jerusalém e, portanto, separados da aliança
com o Eterno.
Os samaritanos do norte, por sua vez, adotavam
como livros sagrados apenas os cinco livros de Moisés (o Pentateuco),
rejeitando os Profetas e os Escritos Restantes que eram lidos como sagrados
entre os judeus. Eles acusavam os judeus
de terem acrescido à Revelação textos não autorizados, e assim defraudado a
Palavra do Senhor.
Em todo caso, e apesar de viverem política e
militarmente subjugados aos romanos, os judeus na época do Novo Testamento se
viam como um povo especialmente superior a todos os outros.
A própria crença generalizada da esperança
messiânica entre os judeus do primeiro século demonstrava que aquela situação
política desfavorável não fez arrefecer o sentimento de superioridade. Por essa crença, Deus haveria de enviar um
Messias para unificar as diversas facções de judeus (inclusive os impuros
samaritanos) e liderar um exército contra os invasores latinos e os levaria à
vitória, fazendo com que o povo voltasse a ser a grande nação da terra.
Os judeus se apegavam a herança e descendência de
Abraão e a aliança feita com Moisés no Sinai para se jugarem raça escolhida e
um povo essencialmente superior a qualquer outro. Daí alimentar um posicionamento de preconceito
racial com qualquer outro povo ou grupo.
E, finalmente, para se ter uma ideia de como esse
sentimento era forte entre os judeus, veja duas citações: (1) debatendo com
Jesus, os líderes religiosos argumentaram sua posição de superioridade
afirmando que, por serem descendentes de Abraão, nunca teriam sido escravos –
ou estiveram em posição se inferioridade (leia o diálogo em Jo 8 começando no
verso 31 e a frase dos judeus no verso 33).
(2) Também, mesmo já em plena expansão missionária
da igreja primitiva, o apóstolo Pedro – judeu de nascimento e tradições –
precisou de uma visão especial e sobrenatural para que se livrasse da visão
preconceituosa que tinha contra os não-judeus e se dispusesse a pregar na casa
do romano Cornélio e aceitasse que o Espírito também estaria sendo derramado a
todos os povos da terra (veja toda a narrativa em At 10).
Sobre o tema do Racismo,
leia também:
> JESUS E O RACISMO – link
> A IGREJA E O RACISMO – link
> POR QUE A GALILEIA – link
> ELE NOS FEZ UM – link