A posição contrária ao segregacionismo racista foi
bem compreendida pela nascente igreja cristã (apesar a implicância inicial de
Pedro – citado em At 10). E no Concílio
de Jerusalém, narrado em At 15, a igreja se posicionou de maneira firme sobre
tal questão. Nas palavras do próprio
Pedro abrindo a reunião:
— [Deus]
não faz distinção alguma entre nós e eles, pois purificou o coração deles por
meio da fé (At 15:9).
Ou, voltando a Pedro, comentando sobre seu encontro com Cornélio, quando atestou sua mudança de postura, agora coadunando com o verdadeiro espírito e pensamento cristão:
— Agora eu entendo que Deus não tem preferências diferenciadas (At 10:34 – na versão tradicional de Almeida: ...Deus não faz acepção de pessoas).
Dessa forma, tomando como bases a interpretação
paulina do posicionamento cristão em relação ao racismo e a intolerância
presente em nossa sociedade, chego a seguinte compreensão:
Num mundo de divergências, onde o discurso de ódio parece encontrar eco, e o diferente passa a ser visto como algo a ser extirpado, as palavras apostólicas dizem:
Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um; derrubando a parede de separação que estava no meio (Ef 2: 14).
Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus (Gl 3:28)
E, para visualizar o contexto primitivo das
citações, observe: os primeiros cristãos estavam tendo problemas com uma
tendência tida espiritual (ou conservadora e preconceituosa) de separar os
eleitos – judeus e prosélitos – dos gentios e pagãos. Como se a graça e a verdade coubessem aos
primeiros e o ódio restasse aos demais (o nome disso é preconceito, racismo e
xenofobia, ou seja: pecado).
Foi contra essa postura virulenta anticristã que o
apóstolo se posicionou. Em Cristo não
pode haver distinção entre “nós” e “eles”, e nem deve ter lugar nenhum discurso
de intolerância (mesmo que seja disfarçado de zelo espiritual), pois o Senhor
acatou a todos sem distinção.
Por que todos igualmente pecaram e por isso precisam
todos imensamente da graça de Cristo (na linha de Rm 3:23).
No evangelho inaugurado por Cristo e anunciado por
Paulo, o outro e o diferente são, em primeiro lugar, amados e
acolhidos. Nunca julgados e segregados.
Todas as nossas eventuais diferenças, frutos da
etnia, da cultura, das posses – ou das escolhas que sejam – foram subjugadas na
cruz de Cristo e nele fomos todos reconciliados de modo a nos tornarmos um só
corpo em Cristo (sugiro ainda a citação de Cl 3:11).
Essa é a nova, grande e surpreendente verdade do
Evangelho. Ele nos fez um. Para a graça divina, todos são igualmente
atraídos e por essa mesma graça somos todos feitos irmãos. Pelo projeto da cruz, deve haver uma só
humanidade.
É por isso que qualquer atitude de separação,
racismo, xenofobia, intolerância ou arrogância é tão ofensiva para Deus: pois é
um pecado que despreza tudo o que Jesus se encarnou para redimir, desconsidera
a cruz e a sua obra e graça.
E, finalmente, as palavras do cântico eterno na
sala do trono divino ecoado no Apocalipse reafirmam que em Cristo – e no seu
sangue – está a extirpação do pecado e do racismo. E a igreja deve cantar assim desde agora.
São essas as palavras eternas:
— Tu
és Digno de tomar o livro e abrir seus selos; porque foste morto e pelo teu
sangue compraste para Deus [gentes] de toda tribo,
língua, povo e etnia (Ap 5:9)
Sobre o tema do Racismo, leia também:
> JUDEUS E SAMARITANOS – uma história de racismo – link
> ELE NOS FEZ UM – link
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