quinta-feira, 7 de julho de 2022

OS NOMES NO TEMPO DO AT

No tempo do AT os nomes eram escolhidos para que representassem a realidade da criança ou da sua família no momento do seu nascimento, e que futuro poderia se esperar dela.  Assim Moisés – em hebraico: משה – recebeu este nome pois seu nome parece soar “tirei” – em hebraico: מקח – uma referência ao fato de ter sido tirado das águas pela filha do Faraó (Êx 2:10).  E Samuel – em hebraico שמואל – teve seu nome escolhido por ser equivalente a “pedir a Deus” – em hebraico שאליו יהוה – porque a criança era resposta ao pedido da mãe (1Sm 1:20). 

Na mesma linha de compreensão, no mundo antigo, mudar o nome de alguém seria o mesmo que promover uma mudança radical na vida e personalidade deste alguém; ou reconhecer um novo papel e destinação histórica deste.  Exemplos bíblicos mais uma vez são apropriados: Abrão – em hebraico אב + רום, ou seja: pai + elevar, erguer; daí םאבר – após a aliança da circuncisão teve seu nome mudado para Abraão – em hebraico אב + עם = pai + povo, gente, clã; daí םאברה – (Gn 17:5). 

E Jacó depois de lutar no vale do Rio Jaboque viu seu nome ser mudado para Israel (Gn 32:28).  Note: Jacó em hebraico é יעקב que provém do verbo עקב: enganar, cujas consoantes equivalem ao substantivo calcanhar – talvez uma referência ao seu nascimento segurando o calcanhar do irmão.  Já Israel, em hebraico em ישראל, é composto dos radicais שרה+ אל: lutar, litigar + Deus. 

Em relação aos seus deuses, os povos vizinhos do antigo Israel assumiam ideias similares.  Conhecer o nome da divindade era conhecer a essência e o poder dela.  Poder falar o nome divino seria ter certo controle sobre o deus e isto era tido como garantia em caso de guerra ou coisa parecida: nos embates entre povos diferentes e suas divindades, o povo que estivesse de posse do nome divino mais poderoso venceria a batalha.

Em Israel não foi diferente.  O nome de Deus (יהוה) não era simplesmente uma referência a alguém que deveria ser reverenciado nas celebrações de culto e festas cíclicas.  Os relatos bíblicos nos mostram que Deus se revelou dando a conhecer o seu nome não apenas para que Israel acrescentasse mais uma informação linguística, mas com dupla finalidade: a) Para que Israel soubesse exatamente quais as características essenciais do Deus a quem ele deveria se curvar e adorar, e esta identificação faria o povo poder descansar, porque sendo Deus o que o seu nome expressa ser, então Israel não teria porque temer o futuro; ou seja, a salvação dependia exatamente de uma identificação não-ambígua de seu Deus em contraste com a generosidade do numinoso.

E b) tendo conhecimento do nome de Deus, Israel tinha uma espécie de pré-garantia de que o poder deste Deus Todo-Poderoso estaria a favor e a disposição da nação sempre que se fizesse necessário enfrentar lutas e embates.  Conhecendo o nome de Deus, os filhos de Israel estariam prontos para guerrear e garantir vitórias.  Assim foi na saída do Egito, assim foi na conquista da terra prometida e assim seria enquanto o povo se mantivesse fiel ao nome de Deus.

  

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