Em primeiro lugar, é complicado falar em
“perspectiva batista” quando se trata de qualquer assunto – inclusive
teológico. Um dos nossos postulados
principais e mais caros é a nossa liberdade em Cristo para interpretar a
Palavra e elaborar nossas formulações teológicas – guiados pelo Espírito Santo.
Nunca houve um pensamento unívoco entre os
Batistas. Sendo assim, há Batistas
calvinistas, há Batistas arminianos, há Batistas liberais, há Batistas conservadores,
há Batistas no domingo, há Batistas no sábado, há Batistas milenaristas, há
Batistas amilenistas ... e por aí vai ...
O importante é que mantemos nossa capacidade de
divergir e continuar amando e cooperando.
Sobre o tema especifico, fui dar uma busca em
documentos históricos e oficiais de nossa Convenção e achei pouca coisa – ou
quase nada – explícito sobre a “expiação limitada”.
→ Na Confissão de Fé Batista de 1689 (no Capítulo
XI) confessamos que “aqueles a quem Deus chama eficazmente, Ele também livremente
justifica, não por meio da infusão de justiça neles, mas por perdoar os seus
pecados e por considerar e aceitar as suas pessoas como justos”. Ou seja, não trata diretamente do tema do ato
de expiação, mas da justificação que é operada por Cristo.
→ Na Declaração Doutrinária da CBB, também nada é
encontrado de modo explícito sobre a expiação.
(Opinião pessoal: penso que por não haver
unanimidade, optou-se por declarações genéricas!)
→ Procurei por outras publicações e, em geral, só
quem trata especificamente do tema são os autores de linha calvinista. No mais, o assunto é abordado como parte da
doutrina da salvação.
Mas sugiro duas leituras rápidas que talvez possam
ajudar:
* O Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho publicou
uma palestra sobre os Grandes Princípios Batistas,
e entre eles, apontou “A Segurança Eterna dos Salvos” (link).
* Respondendo a um outro questionamento que me foi
feito, eu analisei sobre os Batistas, Calvinistas e a Doutrina de Deus (link).
Ainda:
entendendo o termo –
Segundo o dicionário: expiação é o ato de purificação
de crimes ou sofrimento compensatório de culpa.
Sobre a doutrina da “expiação limitada”, ela é de
base calvinista e prega que a morte de Jesus foi de efeito limitado apenas aos
eleitos – ou seja, aos predestinados. Porém,
como é defendida hoje, não está nos textos originais de Calvino, mas foi
elaborada no Sínodo de Dort (1618-19) e tida como uma doutrina do
Hipercalvinismo.
Ou seja, o próprio Calvino não tratou do alcance
da obra salvífica do Calvário, mas apenas daqueles que efetivamente seriam
salvos. Mas seus seguidores esticaram
suas ideias afirmando a incapacidade e ineficácia da expiação para alguns.
Em contrapartida a essa posição radical de que a
obra da Cruz só pode alcançar alguns e que o próprio Deus não teria interesse
em redimir e expiar a culpa de todos os seres humanos eu posso citar o texto
sagrado:
+ Começo citando o Evangelho de João já no prólogo
em que o texto fala que o objetivo do Batista foi dar testemunho da LUZ a fim
de que todos cressem (Jo 1:7). E ainda que a todos os que creram
foi-lhes dado o direito de virem a ser filhos de Deus (Jo 1:12).
+ No clássico Jo 3:16 que sabemos de cor, recitamos
que “... todo aquele que não pereça, mas tenha a vida eterna”. Aqui o verso seguinte ajuda na compreensão: “Deus
enviou o Filho ao mundo não para julgá-lo, mas para que o mundo
seja salvo por ele” (Jo 3:17).
Pela minha exegese, o argumento de Jesus exposto a
Nicodemos é de que a missão do Filho não seria de julgar ou condenar o mundo,
mas de que este (o mundo todo) pudesse ser alcançado e salvo.
E lendo a partir do próprio Calvino:
+
Comentando o texto de Mt 23:37 onde Jesus diz que “quis reunir os
teus filhos”, o teólogo genebrino observou que Deus “chama todos os homens
indiscriminadamente para a salvação” e que ele “deseja reunir tudo para si
mesmo”.
+ Também comentando o texto de Rm 3:22-23, ainda
Calvino declarou que Cristo “é oferecido a todos”. Sobre esse mesmo texto, o congolês D.M.
Kasali afirma: “por causa de uma condenação universal, faz-se necessária
uma justiça universal que só pode ser obtida por meio da fé em Jesus
Cristo” (CBA – grifos meus).