terça-feira, 29 de outubro de 2019

RUSSELL SHEDD E A ADORAÇÃO BÍBLICA

Apesar de não ser brasileiro de nascimento, o Dr. Russell P. Shedd (1929-2016), desenvolveu o seu ministério missionário e acadêmico no Brasil por várias décadas.
Depois da publicação de várias outras obras de caráter mais exegético-teológica, em 1987 veio à luz a obra Adoração Bíblica que, segundo é dito pelos editores no prefácio, tinha por objetivo levar os que acham a “rotina dominical vazia” a repensarem “todas as nossas idéias sobre o culto e a verdadeira adoração ao soberano Deus”.
Assim se estrutura o livro:

Capítulo I – O culto e a Adoração que Deus almeja
Capítulo II – O Vocabulário Bíblico
Capítulo III – A essência do Culto na Bíblia
Capítulo IV – A adoração e os sentidos
Capítulo V – O preparo para a adoração
Capítulo VI – A prática da adoração
Capítulo VII – Os efeitos da adoração
Capítulo VIII – Exemplos de adoração
Capítulo IX – Obstáculos à adoração
Capítulo X – A adoração na Igreja contrastada com a do Antigo Testamento

Vejamos um pouco sobre o pensamento de Shedd expresso no livro.
A base de toda a argumentação apresentada por Shedd é que toda expressão cultual e litúrgica cristã é motivada pelo fato de que “Deus ordena que o adoremos”.  A adoração bíblica é sempre uma resposta do crente obediente de estar na presença de Deus buscando obedecê-lo e comungar com ele daquilo que lhe foi feito em Cristo Jesus. 
Citando um escritor desconhecido, ele afirma que “a adoração transforma o adorador na imagem do deus diante do qual ele se curva”, o que o leva a refletir sobre a adoração na “igreja secularizada” onde é comum “professar a fé em Cristo, mas não se preocupar em expressar amor a Deus, que exige toda a sua força”. 
O que leva ao questionamento sobre se a Igreja no Brasil tem feito de sua adoração e liturgia alicerces para a suas vidas cotidianas.  Ao que o próprio Shedd responde:

Dividimos nossas vidas em dois compartimentos.  Um, envolvendo nossas atividades religiosas, exemplificadas pelo nosso cantar, orar, falar e testemunhar; outro envolvendo todas as atividades não religiosas: nossa conversa, sociabilidade, tempo de trabalho e lazer, sentados à mesa, ou atentos aos programas de televisão.  Uma dicotomia notável caracteriza a vida daqueles que reivindicam comunhão com Deus, afirmando ser residência do Seu Espírito.

Para Shedd, esta compartimentalização da vida do cristão secularizado é a completa desvirtuação do sentido próprio da adoração bíblica, que propõe a união entre Deus e seres humanos, união não somente expressa na liturgia mas que deve se estender em todos os aspectos da vida do crente,

Porque essa união sincera com Deus, em si mesma, juntamente com a prontidão em obedecer e adorar a Deus de modo aceitável, o conduz a louvá-lo através de seu ser e a glorificá-lo por meio de todos os seus atos.

Também deve ser notado que Shedd compreende a adoração bíblica não se revestindo somente se obrigações e responsabilidades.  Tem que ser prazerosa.  Ele cita Agostinho: “Deus encontra prazer em nós quando encontramos prazer nele”.  Assim, Shedd compreende com sendo estes os efeitos da adoração:

1.      Segurança;
2.      Comunhão e reconhecimento mútuos;
3.      Santificação;
4.      Visão transformada;
5.      Evangelização;
6.      Preocupação com a alegria de Deus.

Relacionando a liturgia com a responsabilidade cristã no mundo, Russell Shedd conclui que a adoração cristã traz implicações claras:

As reuniões públicas da igreja devem ter constantemente este objetivo em vista.  Seus membros, ao participarem da liturgia, devem ser estimulados a praticar atos de amor agapë e boas obras (Hb 10:24).  Reunida ou dispersa, a Igreja deve ser uma comunidade glorificadora.  Apenas esta adoração de duas faces é digna dele, que Se entregou pela Igreja com a intenção de garantir a sua perfeição (Ef 5:27). (...)  Pois não somos de nós mesmos, mas fomos comprados por um preço (1Co 6:20), e isto significa que os cristãos têm tanto tempo livre quanto os escravos!  Portanto, quer comais, quer bebais, ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus (1Co 10:31).

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