A pequena Epístola
de Judas, que em nossas Bíblias fica lá no finalzinho do NT, é uma das menos
citadas e estudadas. É até
compreensível. Ela tem relativamente
pouco material – se comparada a outros escritores – e faz umas citações meio
esquisitas: comenta uma disputa entre Miguel e o diabo pelo corpo de Moisés e
faz uma citação de Enoque (ambos não encontram paralelo em outras citações
bíblicas).
Quanto ao seu
autor, a tradição aponta esse Judas como sendo o irmão de Jesus. Na verdade, esse era um nome bem comum no
primeiro século na Palestina e não há nenhuma indicação inquestionável sobre
quem seria ele. O que se tem é uma
citação de Eusébio na sua História Eclesiástica que aponta uma tradição
do segundo século se referindo ao autor como sendo “Judas – dito irmão do
Senhor pela carne”.
Vou deixar estas
questões introdutória e me concentrar no que se tem de melhor neste pequeno
escrito: a Doxologia com a qual ele conclui seu texto.
Àquele que é poderoso para impedi-los de cair
e para apresentá-los diante da sua glória sem mácula e com grande alegria,
ao único Deus, nosso Salvador, sejam glória, majestade, poder e autoridade, mediante Jesus Cristo, nosso Senhor, antes de todos os tempos, agora e para todo o sempre! Amém.
e para apresentá-los diante da sua glória sem mácula e com grande alegria,
ao único Deus, nosso Salvador, sejam glória, majestade, poder e autoridade, mediante Jesus Cristo, nosso Senhor, antes de todos os tempos, agora e para todo o sempre! Amém.
Quero analisar
suas palavras. Mas antes, deixe-me compreender
o que é "Doxologia". Segundo o
dicionário, é uma fórmula litúrgica de arremate nas grandes orações (hinos,
preces, versículos etc.) em que se glorifica a grandeza e majestade
divinas. E é isso mesmo que Judas faz
aqui, ele arremata sua epístola com uma declaração que expressa a fé a
convicção dos cristãos primitivos sobre quem é Deus e como devemos adorá-lo.
Duas palavras eu
destaco como descrevendo o próprio Jesus Cristo. Poderoso
(em grego: δυναμένῳ – nessa forma, particípio presente). Dessa mesma raiz é a expressão do poder que
foi outorgado aos discípulos na descida do Espírito Santo (confira At
1:8).
A outra palavra é único
(em grego: μόνῳ). O livro da revelação
do Apocalipse registra que os vencedores da besta entoavam o cântico de Moisés
declarando ao Rei das nações que somente – o único – ele é santo (leia em Ap
15:4).
Judas reconhece
que somente o que tem todo o poder para nos guardar dos tropeços e nos
apresentar ao Pai imaculados pode merecer o louvor a ser declarado a seguir.
Então a ele seja…
→ Glória (em grego: δόξα)
– literalmente: brilho, esplendor, fama, honra.
É essa mesma expressão que traduz a glória de Senhor que encheu o templo
quando Salomão o inaugurou (veja 2Cr 7:1 – veja também no mesmo sentido Ap 15:8). Ainda foi a fumaça de glória que estava no
louvor dos serafins e impactou Isaías (confira Is 6:3).
→ Majestade (em grego:
μεγαλωσύνη) – literalmente: grandeza. O
autor aos Hebreus usa essa expressão para se referir ao lugar de destaque e
majestade onde fica o trono do Deus (em Hb 8:1). E o Salmo 150 instrui a louvar ao Senhor por
sua grandeza (Sl 150:2).
→ Poder (em grego:
κράτος) – literalmente: força, governo.
Com essa palavra os gregos antigos se referiam às suas
cidades-estado. Apresentando a armadura
de Deus, o apóstolo reconhece que somente sob o governo e poder do Senhor é que
seremos fortalecidos (leia em Ef 6:10).
→ Autoridade (em grego:
ἐξουσία) – literalmente: poder, domínio, jurisdição. É com essa palavra que Mateus descreve toda a
autoridade que o próprio Jesus declara estar em seu controle no céu e na terra
(confira em Mt 28:18).
Então eu me somo a
Judas na adoração a Jesus Cristo, Senhor nosso, por toda eternidade, declarando
o AMÉM solene (Αμήν – אמן).
Glória a Deus.
ResponderExcluirAleluia.
ExcluirLindíssima explanação, como nunca eu tinha estudado. Obrigada por explicar claramente o texto. Ycléa
ResponderExcluirQue bom que ficou mais claro o texto bíblico. A glória seja unicamente ao Deus e Pai do nosso Senhor Jesus Cristo.
ExcluirAbr.