terça-feira, 25 de junho de 2019

COMO O OCIDENTE SE TORNOU CRISTÃO


Historicamente, o primeiro reino a se declarar cristão foi o da Armênia por volta do II século; mas esta declaração e a existência de tal reino pouco ou quase nada influenciou na formação da mentalidade de cristandade ocidental.
Enquanto isto, os cristãos em geral viviam as agruras de comungarem de uma religião proscrita. Entre os judeus, onde a fé cristã começou, os primeiros seguidores de Cristo eram considerados como hereges politeístas e, portanto, deveriam ser silenciados.
Quanto do Império Romano, ele via o movimento cristão como uma ameaça à religião estatal e ao culto ao imperador propagado em Roma. Cabendo então a próprio imperador, e sua estrutura estatal se fazer valer do poder para reprimir, marginalizar e perseguir a Igreja.
Somente com Constantino que a situação começaria a mudar. No Edito de Milão de 313 o imperador decidiu dar liberdade de culto a todas as religiões, o que favoreceu grandemente a religião cristã.
O próprio Constantino não somente auxiliou na construção de diversos templos e capelas cristãos como também convocou o Concílio Ecumênico de Niceia, em 325, que deliberou, entre outros temas, sobre o Credo Apostólico. Foi Constantino também que transferiu para o bispo de Roma o título de “pontífice máximo”, antes atribuído ao próprio imperador e que depois serviu como justificativa para o domínio papal.
Com isso a Igreja passou a, progressivamente, assumir papel de destaque e a dispor de privilégios cada vez maiores dentro da sociedade romana até que, menos de um século depois do Edito de Milão, o imperador Teodósio declarou o Cristianismo como a religião oficial do Estado Romano através do Edito de Tessalônica de 380 que decretava:
Todos os povos sobre os quais exercemos regência bondosa e moderada devem (...) converter-se à religião comunicada aos romanos pelo divino apóstolo Pedro (...) e claramente professada pelo pontífice Damásio, como também pelo bispo Pedro de Alexandria (...)”.
Assim, estava decretada a união entre Igreja e Estado e que se tornaria marca da Igreja Católica chamada Romana. Com este decreto, por um lado os assuntos concernentes ao Estado Romano encontravam justificativa nos umbrais da Igreja institucionalizada e por outro, os inimigos hereges da Igreja seriam considerados inimigos do Estado e tratados com os rigores da lei.
Mais adiante, a união legal estabelecida por Teodósio encontrou respaldo ideológico no Império Carolíngio. Carlos Magno e seus sucessores associaram a fé católica ao poder estatal de modo que os dois se fundiram em um só corpo de representação simbólica.
Foi este espírito que o brasileiro Riolando Azzi chamou de sociedade sacral e que fez coincidir as fronteiras do império com as fronteiras da fé de modo que: ser fiel cidadão deveria implicar em necessariamente estar sob a tutela do rei – como mandatário político – e sob a tutela do papa ou bispo – como mandatários espirituais.
Estava formado o conceito de cristandade: as instituições do Estado e da Religião fundidas em um único corpo de propósitos.


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