Temos aqui para a nossa reflexão mais um dos bagos da jaca de Espírito. Continuamos naquela zona onde os limites dos bagos se confundem. Mas como cada um deles é parte integrante e essencial da mesma fruta, então não resta em absoluto nenhum problema de misturá-los. Já vimos que a amabilidade no Espírito nos torna agradáveis no trato social, e – como dissemos – sem precisar o limite entre os bagos, devemos destacar a bondade como fruto do Espírito.
Mais de uma dezena de vezes o Senhor Deus é reconhecido como bom no livro de Salmos, e penso que este seja a mais comum referência a ele no Saltério (veja, por exemplo, o Sl 73:1 / 100:5 e 136:1 entre outros). Para os poetas bíblicos, entre tantas qualidades e atributos divinos, a sua bondade mereceu um destaque considerável. Com certeza: "o Senhor é bom para todos; a sua compaixão alcança todas as suas criaturas" (cantado no Sl 145:9). Este deve ser sem dúvida o nosso ponto de partida.
Neste ponto, eu me permito uma pequena digressão teológica. Assim como os salmistas, eu sei que Deus é bom não porque seja capaz de esmiuçar a essência do seu ser, traçando-lhe um perfil completo e confiável. Isto é simplesmente impossível.
Deus é e sempre continuará sendo transcendente, aquele que escapa aos meus conceitos e definições. Ou seja, nas palavras do suíço K. Barth: Deus é o Totaliter Aliter (totalmente outro). Isto quer dizer que por mais que eu estude e investigue, jamais chegarei por métodos próprios ao conhecimento de quem é Deus, ele sempre está além.
É por isso que eu preciso da Revelação, preciso da vontade de Deus em se dar a conhecer. Em outras palavras: eu só posso afirmar a bondade divina por que suas ações para comigo atestam isso. Por ser alvo preferencial das ações bondosas de Deus eu sei que ele é bom. Davi sabia disto: "provem, e vejam que o Senhor é bom" (no Sl 34:8).
Voltemos à jaca, aplicando o mesmo princípio. Sendo a bondade fruto do Espírito, ela não pode ser identificada através de definições teóricas, mas somente por engajamento e ações práticas que a delimitem.
Já lemos que para Paulo, quem vive no Espírito deve assim se portar (confira Gl 5:25), e neste caso a aplicação é completa. Se sou tomado pelo Espírito – seu gosto, cheiro, visgo e o mais – então isso deve produzir em mim um conjunto de comportamentos que me identifiquem como bom, como Deus o é. Ou seja, quem nunca experimentou uma jaca não pode descrevê-la. Também não é possível ser um bago da jaca sem que todas as suas propriedades estejam intrinsecamente ali presentes.
Bondade não é discurso; não é teoria; nem argumento lógico. Bondade é cristianismo encarnado (considere ainda Rm 5:8); é o Senhor transpirando em mim. Que assim nos faça ele.
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