Entrei em
contato pela primeira vez com a obra de C.S. Lewis quando ainda era
seminarista, lá pela segunda metade da década de 1980. Na época não havia disponível muita coisa em
língua portuguesa, mas na biblioteca do Seminário do Norte em Recife podia
encontrar alguns volumes em inglês e nos esforçávamos para ler e compreender
assim mesmo.
Já se dizia
então que os textos de Lewis eram leitura obrigatória, mas, confesso: não
aproveitei o quanto deveria da oportunidade.
E, só para
citar e saber de quem estamos falando, Clive Staples Lewis (1898-1963),
professor, ensaísta e romancista britânico foi, sem dúvida, uma das mentes mais
brilhantes e influentes que o cristianismo ofereceu à humanidade no século
XX. Entre as suas obras mais conhecidas está a série As Crônicas de Nárnia – popularizada
inclusive a partir de produções cinematográficas.
(Nárnia
mereceria reflexões à parte pelo seu simbolismo e riqueza – O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa é
uma impressionante representação da história cristã da salvação!)
Outros
títulos que merecem citação são Cristianismo
Puro e Simples e Surpreendido pela
Alegria (também cada um deles valeria uma resenha própria – prometo pensar
na possibilidade).
Bem, resolvi
retomar a leitura de C.S. Lewis – acho que atualizar seria um bom verbo para
expressar o sentido – e o fiz começando com Cartas
de um Diabo a seu Aprendiz.
Quanto às Cartas propriamente ditas, elas
apareceram pela primeira vez publicadas no The
Guardian e depois já sob a forma de livro em 1942. São 31 correspondências envidas por Screwtape – um diabo sênior (na edição
que tenho em mãos o nome dele é traduzido como Maldanado) – a seu afilhado e
pupilo Wormwood (chamado de
Vermelindo), um aprendiz de tentador.
A primeira coisa
que chama a atenção na obra, ao olhá-la na estante da livraria é o seu
título. E acho que o impacto da versão
em português acaba sendo maior que o original em inglês. Ao invés do nome próprio (em inglês é The Screwtape Letters), aqui ficou mais
explícita sua designação: Cartas de um
Diabo...
Vencida esta
primeira impressão, mesmo porque dizem que não se deve julgar um livro pela
capa – e nem pelo seu título – vamos à sua leitura. E logo o estilo
direto nos traz para dentro do seu enredo.
Então, é fácil
constatar que, dotado de uma sagacidade e capacidade intelectual inigualável,
Lewis consegue imprimir nas Cartas
além da petulância, uma irreverência que seria típica do diabo. As Cartas
são também recheadas de ironia sutil, algumas vezes bem disfarçadas, mas capaz
de nos fazer transitar, quase que de maneira subliminar, nas zonas sombrias e
cinzentas da alma humana e na batalha cotidiana e espiritual pela posse e
controle dela.
O contexto
geral das Cartas é a Grande Guerra
europeia de 1939-1945, mas ela – a guerra – somente lhe serve de pano de fundo
para o que realmente importa: o diabo não está interessado em quantos vão
morrer ou sofrer os horrores de bombardeios, mas em como a alma do paciente
pode ser desviada e afastada dos braços do Inimigo.
E aqui também
está um pouco da boa engenhosidade da obra.
Nas Cartas, as citações são em
geral indiretas: o paciente é tratado apenas como objeto a ser conquistado; a
noiva dele e demais circundantes como despersonalizados meios para se chegar ao
fim desejado; a mãe como ocasião de querelas; o chefe do mundo inferior como
Nosso Pai; e o Outro também nunca é reconhecido com nome e personalidade, mas
apenas como o Inimigo.
Assim Lewis
constrói um quadro em que nem tudo o que é prescrito pelo diabo instrutor em
suas epístolas "deve ser tomado como verdadeiro, nem mesmo a partir do seu
ponto de vista", afinal, como diz C.S. Lewis no prefácio, "os
leitores são aconselhados a lembrar que o diabo é um mentiroso".
Acho que devo
dar uma pausa por aqui. Pensei originalmente
em anotar uma simples resenha sobre o texto, mas já percebo que as minhas
linhas vão se estendendo... Então vamos combinar o seguinte: já acrescentei ao
título deste a indicação: numa primeira
olhada e me comprometo a depois continuar a refletir sobre algumas ideias e
conceitos que encontrei na leitura das Cartas.
Por hora vou
apenas enfatizar: C.S. Lewis é leitura
obrigatória!
Quero ler. Só conheci tardiamente e devido ao filme. Continue a resenha. Abraço.
ResponderExcluirEu entendo que C.S. Lewis é realmente leitura obrigatória para todo cristão que deseja enriquecer e aprofundar criticamente sua fé e conhecimento.
Excluirmantenho o compromisso: vou continuar a refletir sobre a obra de Lewis.