terça-feira, 18 de junho de 2024

PENSANDO NO LIVRO DAS LAMENTAÇÕES – iniciando a leitura

O Livro das Lamentações – que em nossas Bíblias modernas segue ao de Jeremias – é composto de cinco poemas ordenados de forma alfabética na língua original.

O seu autor, provavelmente o próprio profeta Jeremias, escreveu esses versos num estilo poético de canto fúnebre enquanto contemplava a destruição de Jerusalém no sexto século a.C., mas também se lembrando de como havia sido aquela cidade e das causas que levaram à ruina.

Porém, mais que apenas uma sequência de lamúrias, choro e dor, o texto bíblico apresenta um modelo de devoção que reconhece as causas das desgraças e confia na esperança de um Deus sempre presente junto aos que lhe apresentam seu lamento.

 


CASTIGO E SOFRIMENTO – 

O Livro das Lamentações se abre com uma dura constatação: “Como está solitária a cidade que era tão populosa! A que era grande entre as nações tornou-se como viúva!” (1.1).  Aquela que um dia tinha sido bela e brilhante como uma princesa agora chorava inconsolavelmente.

E foi diante de tanta dor que o lamento se conduziu a uma busca que desse sentido ao seu sofrimento e profundidade a sua relação com seu Senhor.  As tragedias da vida nunca podem impedir ou sequer ofuscar a vida com Deus.

A razão daquele estado de calamidade era um só: a queda e o cativeiro aconteceram “por causa das suas muitas transgressões” (1.5).  Especificamente, por que “Jerusalém pecou gravemente, por isso tornou-se impura” (1.8).  Não havia outra causa para o que se via naquele momento.

Assim, de maneira a enfatizar a causa do sofrimento cuja “ferida é tão grande como o mar” (2.13), o texto ressalta que “maior é a maldade do meu povo do que o pecado de Sodoma” (4.6).  Ora, se para Sodoma, Deus não poupou o castigo pelos seus pecados, da mesma forma estaria naquele momento ascendendo seu fogo contra Sião para consumir os fundamentos daquela cidade pecaminosa (v. 11).

A causa do sofrimento e da lamentação não era, de maneira alguma, uma atitude de maldade por parte do Senhor ou que ele tivesse se esquecido de seu povo.  Pelo contrário, mesmo diante daquela situação era preciso reconhecer que “isso aconteceu por causa dos pecados dos seus profetas e das maldades dos seus sacerdotes, que derramaram o sangue dos justos no meio dela” (4.13) e que foi a rebelião contra os mandamentos divinos a razão do cativeiro.

Num momento assim, o mais duro era constatar que “os teus profetas te anunciaram visões falsas e insensatas e não denunciaram o teu pecado para evitar o teu cativeiro; mas anunciaram profecias inúteis e palavras que te levaram ao exílio” (2.14). 

Quando aqueles que teriam a obrigação espiritual de serem os portadores fieis da mensagem divina se deixam ser enganados, as consequências são desastrosas para o povo e restando expressar seu lamento: “Caiu a coroa da nossa cabeça.  Ai de nós, porque pecamos!” (5.16).

(Da revista “COMPROMISSO” – Convicção Editora – Ano CXVII – nº 468)

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