O Livro das Lamentações – que em nossas Bíblias modernas segue ao de Jeremias – é composto de cinco poemas ordenados de forma alfabética na língua original.
O seu autor,
provavelmente o próprio profeta Jeremias, escreveu esses versos num estilo
poético de canto fúnebre enquanto contemplava a destruição de Jerusalém no
sexto século a.C., mas também se lembrando de como havia sido aquela cidade e
das causas que levaram à ruina.
Porém, mais que
apenas uma sequência de lamúrias, choro e dor, o texto bíblico apresenta um
modelo de devoção que reconhece as causas das desgraças e confia na esperança
de um Deus sempre presente junto aos que lhe apresentam seu lamento.
CASTIGO E SOFRIMENTO –
O Livro das Lamentações se abre com uma dura constatação: “Como está
solitária a cidade que era tão populosa! A que era grande entre as nações
tornou-se como viúva!” (1.1). Aquela que
um dia tinha sido bela e brilhante como uma princesa agora chorava
inconsolavelmente.
E foi diante de tanta dor que o lamento se conduziu a uma busca que desse
sentido ao seu sofrimento e profundidade a sua relação com seu Senhor. As tragedias da vida nunca podem impedir ou
sequer ofuscar a vida com Deus.
A razão daquele estado de calamidade era um só: a queda e o cativeiro
aconteceram “por causa das suas muitas transgressões” (1.5). Especificamente, por que “Jerusalém pecou
gravemente, por isso tornou-se impura” (1.8).
Não havia outra causa para o que se via naquele momento.
Assim, de maneira a enfatizar a causa do sofrimento cuja “ferida é tão
grande como o mar” (2.13), o texto ressalta que “maior é a maldade do meu povo
do que o pecado de Sodoma” (4.6). Ora,
se para Sodoma, Deus não poupou o castigo pelos seus pecados, da mesma forma
estaria naquele momento ascendendo seu fogo contra Sião para consumir os
fundamentos daquela cidade pecaminosa (v. 11).
A causa do sofrimento e da lamentação não era, de maneira alguma, uma
atitude de maldade por parte do Senhor ou que ele tivesse se esquecido de seu
povo. Pelo contrário, mesmo diante
daquela situação era preciso reconhecer que “isso aconteceu por causa dos
pecados dos seus profetas e das maldades dos seus sacerdotes, que derramaram o
sangue dos justos no meio dela” (4.13) e que foi a rebelião contra os
mandamentos divinos a razão do cativeiro.
Num momento assim, o mais duro era constatar que “os teus profetas te
anunciaram visões falsas e insensatas e não denunciaram o teu pecado para
evitar o teu cativeiro; mas anunciaram profecias inúteis e palavras que te
levaram ao exílio” (2.14).
Quando aqueles que teriam a obrigação espiritual de serem os portadores
fieis da mensagem divina se deixam ser enganados, as consequências são
desastrosas para o povo e restando expressar seu lamento: “Caiu a coroa da
nossa cabeça. Ai de nós, porque pecamos!”
(5.16).
(Da revista “COMPROMISSO” – Convicção Editora – Ano CXVII – nº
468)
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