Vamos conversar um pouco sobre a língua grega e a riqueza que seu
vocabulário pode nos trazer.
Veja o caso da passagem do capítulo 20 do Evangelho de João.
A narrativa em resumo conta que, no primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao túmulo e viu que a pedra da
entrada estava removida. O texto então
diz que ela correu e encontrou Pedro e o outro discípulo – provavelmente João.
Então todos correram de volta à cena e dirigiram seus olhares para ali.
Aqui está um pouco dessa riqueza vocabular helênica. Cada um olhou e viu de um jeito diferente.
Verso 5 – O primeiro que chegou foi o discípulo. Ele se abaixou, olhou para dentro da tumba
vazia, e ainda do lado de fora viu as faixas de linho.
Aqui o autor evangélico usa o verbo grego βλέπω (blepo) para
dizer que apenas uma olhada rápida e descuidada foi feita – uma passada de olho
sem maior clareza de percepção ou compreensão.
Essa também foi a palavra usada no verso 1 para a olhada da Madalena
quando chegou e viu o túmulo sem a pedra.
Outra citação – o apóstolo Paulo também usa esse verbo para descrever
como agora conseguimos ver os mistérios de amor, antes que a perfeição nos seja
revelada face a face (em 1Co 13:12)
Verso 6 – Depois chegou Simão Pedro, entrou no sepulcro e
também notou as faixas de linho.
Agora já há uma maior atenção ao que cerca o observador. O verbo usado em grego nesse verso é θεωρεώ
(theoreo). Com esse termo é dito
que algo lhe chamou a atenção e ele começou a compreender o que havia
ocorrido. Já foi possível elaborar uma
teorização da cena.
Outra citação – Lucas, no seu Evangelho, usa esse verbo para descrever
alguém que observa e a avalia as implicações e custos para a construções de uma
torre (em Lc 14:29).
Verso 8 – novamente o discípulo que chegou primeiro, agora
também já dentro da tumba vazia, ele viu e creu.
Aqui a presença dos dois verbos ajuda a entender o significado dessa
percepção. Em grego é: καὶ εἶδεν καὶ
ἐπίστευσεν. O primeiro verbo é ὁράω
(orao) – ver. E o segundo é πιστεύω
(pisteo) – crer.
O discípulo conseguiu ver e se deixou se tocado e envolvido pela
cena. Foi mais que uma passada de
olho. Mais que um vislumbre
intelectual. Seus olhos contemplaram
algo que lhe tocou por dentro em sua existência. Agora fez todo sentido!
Outra citação – no Apocalipse, é assim que João se refere quando viu a
Nova Jerusalém, o novo céu e a nova terra.
E isso trouxe para ele a clareza do desfecho da visão.
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