sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

EU E O PAI

  


Ainda em Jerusalém, no contexto da discussão sobre o poder e a missão de Jesus, o evangelista João nos conta que o próprio Mestre apresentou o seu relacionamento com o Pai como o argumento definitivo para justificar suas ações e palavras.

Dois pontos são apresentados por Jesus.  Ele fala de sua intimidade única com o Pai e do amor que aquele o dispensa (confira em Jo 5:19-20). 

Esta verdade é fundamental para o evangelista: Deus-Pai e Jesus – o Deus-Filho –  são essencialmente a mesma divindade, e por isso gozam de exclusivo um inter-relacionamento que há entre eles mesmos. 

E sobre a relação Deus-Pai-Filho, três considerações: a) João havia enfatizado isso no seu prólogo (veja Jo 1:1-5) e sempre vai retomar o tema em todo o Evangelho (como por exemplo, o diálogo com Tomé em Jo 14:5-11); b) o testemunho que importa para Jesus é o do Pai, pois é em seu nome que ele veio (compare os versos 37 e 43 do capítulo 5); e c) é interessante: o que muito incomodou os líderes judeus é a essência da verdade – Jesus, ao se comparar ao Pai, fez-se igual a Deus (leia 5:18).

Então é na base deste relacionamento entre Jesus e o Pai que o resgate do ser humano é apresentado: quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna (Jo 5:24).

 

quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

A IDENTIDADE DO CRISTÃO


 

O que nos identifica como cristãos? Reflexão baseada em João 13:35

terça-feira, 26 de janeiro de 2021

DESTINATÁRIOS DAS EPÍSTOLAS PAULINAS – cartas às Igrejas

  


O Novo Testamento registra nove cartas – ou epístolas – escritas pelo apóstolo Paulo e destinadas a Igrejas.  Na relação abaixo eu listo estas epístolas paulinas identificando seus destinatários.

 

AOS ROMANOS – A primeira das cartas que aparecem no NT é também a maior de todas e tida como a mais importante interpretação da doutrina cristã.  Ela foi dirigida aos cristãos de Roma, a capital do Império e sua maior cidade (no primeiro século com cerca de 1 milhão de habitantes).  Ainda hoje a cidade de Roma – atual capital da República Italiana – está situada na região do Lácio e conta com uma população de cerca de 2,8 milhões de habitantes.
Quando o apóstolo escreveu sua epístola ele não conhecia ainda a comunidade cristã em Roma – ela provavelmente foi fornada a partir de convertidos oriundos do Pentecoste.

 

AOS CORÍNTIOS – Paulo escreveu provavelmente quatro cartas aos cristãos de Corinto, duas delas estão registradas no NT.  Corinto (em grego: Κόρινθος) é uma cidade na região do Peloponeso, na Grécia (a cidade atual tem cerca de 60 mil habitantes).  No primeiro século ela tinha sido reconstruída por ordem de Júlio Cesar após um grande terremoto.
Corinto era famosa por ter dois portos influentes, um no mar Egeu e outro no golfo de Corinto.  Também dois grandes templos, um dedicado a Afrodite e outro a Apolo.
O apóstolo Paulo esteve lá na sua segunda viagem missionaria e ali estabeleceu a igreja cristã.

 

AOS GÁLATAS – A Galácia (em grego: Γαλατία) não é uma cidade específica, mais sim uma região na atual Anatólia – Turquia.  A principal cidade da região no primeiro século era Ancira (hoje Ancara capital da atual Turquia com 4,5 milhões de habitantes).
Tanto na primeira como na segunda viagem missionária, o apóstolo Paulo passou por aquela região fundando diversas igrejas.
A Carta aos Gálatas seria então uma espécie de carta circular que deveria ser compartilhada entre as igrejas da região.
O apóstolo Pedro também destinou suas cartas aos cristãos dispersos da Galácia.

 

AOS EFÉSIOS – A cidade de Éfeso (no grego: Ἔφεσος) era a maior cidade grega na costa da Jônia e no primeiro século era a capital romana da Ásia Menor.  Naquela cidade estava construído o templo de Ártemis – uma das sete maravilhas do mundo antigo –, a Biblioteca de Celso e um teatro com capacidade para 25 mil pessoas.
Paulo passou três anos lá em sua terceira viagem missionaria, ali fundou uma igreja deixando Timóteo como seu líder.
Em Éfeso também havia uma comunidade cristã fundada pelo apóstolo João e para essa igreja uma das cartas do Apocalipse foi escrita.
Hoje as ruinas da antiga Éfeso são um importante centro turístico da Turquia.

 

AOS FILIPENSES – No primeiro século, a cidade de Filipos (no grego: Φίλιπποι) estava localizada na província da Macedônia e fazia parte de uma importante rota do Império Romano – a Via Ignatia – sendo considerada a porta de entrada da Europa para quem vinha da Ásia.  A cidade tinha status de cidade romana e a população tinha todos os direitos de cidadania.
Paulo esteve lá em sua segunda viagem missionária onde começou uma comunidade cristã na casa de Lídia, a comerciante de púrpura.
Em 2016 a UNESCO considerou o sítio arqueológico de Filipos como patrimônio da humanidade 
por "constituir um testemunho excepcional do início do estabelecimento do Cristianismo".

 

AOS COLOSSENSES – A cidade de Colossos, que os romanos também chamavam de Conas (em grego: Κολοσσαί – e em latim: Colossae ou Chonae), era uma cidade na região da Frígia e tinha uma ligação muito próxima com a cidade de Laodiceia.
O historiador grego Xenofonte a descreveu como “uma cidade populosa, tanto rica quanto grande”.
Naquela cidade vivia Filemon – a quem o apóstolo também escreveu uma carta que consta no NT – e, ao que tudo indica, ele não conhecia pessoalmente a comunidade cristã dali quando escreveu sua carta.
Sua ruinas e restos arqueológicos ainda carecem de serem exploradas na atual Turquia.

 

AOS TESSALONICENSES – O apóstolo Paulo esteve na cidade de Tessalônica (em grego: Θεσσαλονίκη) em sua segunda viagem missionaria.  Ali pregou na sinagoga e fundou uma comunidade cristã, porém, por encontrar bastante resistência na cidade, não prosseguiu, dirigindo-se à cidade de Bereia.
A cidade era um destacado entreposto comercial na Via Ignatia e os romanos estabeleceram ali a capital da província da Macedônia.
Atualmente a cidade de Salônica é a segunda maior cidade da Grécia moderna com mais de 1 milhão de habitantes em sua área metropolitana com um movimentado porto, um moderno centro industrial e uma estratégica base militar.


Veja também uma Relação dos DESTINATÁRIOS DAS EPÍSTOLAS PAULINAS – cartas pastorais

sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

SOBRE O PÃO E A CARNE


 

Diante da crescente oposição que Jesus enfrentou em Jerusalém, ele decidiu deixar a Judeia para dar prosseguimento ao seu ministério.

Já na Galileia, uma grande multidão novamente cercou Jesus, o que ofereceu a oportunidade para a realização de diversos milagres e sinais entre o povo.  Um deles é a multiplicação de pães (citada em Jo 6:1-15), quando a partir de apenas cinco pães e dois peixinhos, Jesus alimentou uma multidão citada em cerca de cinco mil homens.

É então que Jesus mais uma vez usa do contexto para ensinar sobre quem ele verdadeiramente é e qual a sua missão.

Para a multidão faminta, Jesus proporcionou o pão material que tirou sua fome física.  E Jesus mesmo reconheceu que esta seria a motivação principal que estaria atraindo seus ouvintes (confira em Jo 6:26). 

O Mestre nunca deixou de atender às necessidades daqueles que o procuravam, mas isso é pouco.  O que Jesus estava oferecendo é muito maior e mais valioso.

Assim como o maná providenciado pelo próprio Deus aos filhos de Israel no deserto, o pão material é perecível, mas o pão eterno que desceu dos céus e estava sendo ofertado, esse sim, era eterno (em Jo 6:27).

Tais palavras causaram maiores dúvidas nos seus ouvintes: que faremos? (6:28).  Ao que Jesus é enfático na resposta e por, pelo menos, duas vezes não deixa dúvida: Eu sou o Pão (em Jo 6:35 e 6:48).

Então para receber a vida eterna que Jesus oferece é preciso recebê-lo, ir a ele, crer nele (considere Jo 6:47).  Nas suas palavras: comer sua carne (considere a citação de Jo 6:51-58) para que somente assim tenha vida.

Mas que não se confunda o físico-temporal com o espiritual-eterno (como fez Nicodemos em Jo 3).  O tema aqui é espiritual e assim deve ser entendido e aceito.

 

 

terça-feira, 19 de janeiro de 2021

VULGATA – A BÍBLIA EM LATIM

  


Os primeiros manuscritos do texto bíblico surgiram na região que hoje conhecemos como Oriente Médio.  Eles eram escritos em uma língua de origem semítica.  Essa é a origem do nosso Antigo Testamento em Hebraico (há ainda alguns pequenos trechos em Aramaico – uma língua irmã).

Já quanto ao Novo Testamento, ele foi todo escrito inicialmente em Grego – na variante que ficou conhecida como Koiné.

O que essas línguas têm em comum?

Do ponto linguístico quase nada!

Os textos também não foram escritos nessas línguas porque elas eram sagradas ou místicas.  Era apenas a fala comum do povo.  Se o texto era para ser lido e conhecido por todos, então que estivesse em seu sotaque materno e costumeiro!

 

A igreja primitiva conheceu os textos sagrados nessas línguas – seus membros falavam assim no dia-a-dia.  Mas aos poucos a igreja foi se expandindo para lugares e povos que conversavam em outros idiomas, então surgiu a necessidade de que os mesmos textos sagrados continuassem sendo entendidos.  Era preciso traduzi-los.

 

No centro do Império Romano o povo falava Latim e surgiu a necessidade a ter todo o texto acessível.  A tarefa de tradução foi incumbida a Jerônimo de Estridão que no início do século V entregou a sua Vulgata Versio, isto é "versão de divulgação para o povo".

Essa versão do texto bíblico foi escrita num latim vulgar e cotidiano, diferente dos textos clássicos de Cícero e outros eruditos.

Era para ser lido e compreendido por todo o povo.

E fez mais.  Além de traduzir diretamente do hebraico e grego os textos considerados sagrados e canônicos pelos cristãos, Jerônimo, como teólogo, acrescentou alguns comentários de sua autoria e prólogos críticos ao texto.  Ele também traduziu os que conhecemos como deuterocanônicos e os incluiu numa edição posterior, seguindo uma tradição latina antiga.

Curioso ainda é o caso do Livros dos Salmos que Jerônimo traduziu em colunas paralelas a partir das versões: 1. Em hebraico (Iuxta Hebraicum Translatus) e 2. Em grego (Iuxta Septuaginta Emendatus).

A versão de Jerônimo se consolidou e se tornou popular no uso comum do povo, até que no século XVI o Concílio de Trento a tornou o texto oficial da Igreja Católica Romana.

E finalmente, já no século XX, o Concílio Vaticano II autorizou uma revisão no texto para um melhor uso nas liturgias católicas.

 

sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

FALA DEUS!

 



Fala Deus! Fala Deus!
Toca-me com brasas do altar.
Fala Deus! Fala Deus!
Sim, alegre, atendo ao teu mandar.

 

Eu me lembro de ouvir o cântico “Fala Deus!” nas reuniões de oração em nossa igreja na minha infância aqui em Aracaju.  Naquela pouca idade, eu também pouco conhecia e a melodia era apenas mais um corinho de inspiração que se entoava nos cultos.

Depois, esse hino me acompanhou por vários outros momentos.  Descobri que o corinho era na verdade o refrão do Hino “O Senhor da Ceifa Chama” (nº 127 da Harpa Cristã) e o ouvi em variadas gravações, de Luiz de Carvalho a Cassiane – e até cheguei a cantar com o nosso Coral Idade Feliz em nossa Igreja.

Bem mais recentemente fui em busca de maiores detalhes sobre o hino.  Confesso que não achei muita coisa que alimentasse minha curiosidade.  Sei apenas que a composição original é do sueco Otto Nelson que atuou como missionário das Assembleias de Deus no Brasil nos primeiros anos do século XX – tendo inclusive contribuído na organização da Igreja Assembleia de Deus aqui em Aracaju em 1949.

 

O hino em si tem uma melodia agradável e de fácil memorização – o que só valoriza a canção – e a ouvir ao toque de uma banda de metais da própria Assembleia de Deus levanta qualquer crente.

 

A letra aponta diretamente à experiência do profeta Isaias quando viu o Senhor no trono (capítulo 6) e foi tocado pela brasa viva do altar o capacitando para levar a mensagem.

Porém, bem ao estilo mix pentecostal, a letra nos conduz tanto a compreensão da urgência no anúncio da mensagem pois muitos já se vão expirando quanto a esperar a saudação e o bem-vindo de Jesus no grande dia quando finalmente poderemos descansar dos trabalhos daqui e desfrutaremos das bênçãos que nos aguardam.

Mas o refrão sempre traz de volta a oração: Fala Deus! Toca-me.  E assim, enquanto espero a manifestação da graça eu me coloco alegremente à disposição para atender o mandar divino.

 

Que seja essa a nossa oração: Fala Deus pois estou atento a ouvir e atender sua voz.

 

terça-feira, 12 de janeiro de 2021

LIVROS HISTÓRICOS DO ANTIGO TESTAMENTO

Em nossas Bíblias modernas, estão compilados no bloco dos LIVROS HISTÓRICOS DO ANTIGO TESTAMENTO as narrativas da história do povo de Israel, de quando este chegou em Canaã, vindo da escravidão e peregrinação pelo deserto, passando pelos juízes, reis e profetas, ida ao exílio, e restauração para serem novamente o povo de onde haveria de nascer o Enviado de Deus.

A ênfase nestes livros não está necessariamente em questões doutrinárias ou cultuais.  Aqui são narrados fatos tentando mostrar a trajetória de um povo que foi escolhido para ser propriedade exclusiva do Senhor, mas que, nem sempre, soube ser fiel a este senhorio.

 

Vejamos rapidamente os doze livros, um a um:

 

# Josué – O livro leva o nome do herói da conquista.  Josué foi o sucessor de Moisés na liderança do povo, e sob seu comando a nação israelita foi estabelecida na terra, sendo dividida em tribos.  O povo chegou na terra por volta do século XVI a.C.  Depois de ter conquistado o local da promessa, fez um pacto de fidelidade com o Senhor: "Ao SENHOR, nosso Deus, serviremos e obedeceremos à sua voz" (Js 24:24).

# Juízes – Este segundo entre os livros históricos narra o período de transição entre a conquista com o assentamento das tribos numa federação e o estabelecimento do reino judaico.  Este período que cobre quatrocentos anos relata quase que invariavelmente esta sequência: a) fidelidade ao Senhor; b) apostasia e culto aos ídolos; c) queda e ruína sob opressores estrangeiros; d) Deus levanta um juiz libertador; e) com a vitória o povo se arrepende e volta à fidelidade ao Senhor; reiniciando o ciclo.

# Rute – Este pequeno livro do AT traz uma história singular.  Além de apresentar a ascendência do rei Davi, mostra aos filhos de Israel que Deus pode utilizar qualquer pessoa, mesmo uma gentia, para que seus planos sejam executados, cabendo a nós apenas nos colocar em nosso lugar de servos cumpridores da sua Lei e dos seus desígnios.  O livro de Rute era lido na festa anual das Semanas (o NT chama de Pentecoste) e inspirava o povo a celebrar a Deus pela colheita.

# 1º e 2º Samuel – Os dois livros narram a formação do reino judaico.  Começando com o juiz-profeta Samuel que teve o privilégio de ungir os primeiros reis de Israel, passando pelo reinado de Saul, as conquistas de Davi e a formação do Império sob seu comando.  A época era o século X a.C. e a nação estava em plena ascensão.  A disposição do texto é bastante narrativa contando como o povo deixou de ser nômade para se tornar sedentário – de um povo governado por Deus através de juízes esporádicos para um povo administrado por um governo central.

# 1º e 2º Reis – Os livros dos Reis começam com a velhice de Davi e o processo de sucessão e escolha de Salomão – o sábio herdeiro do Império.  Com a morte de Salomão, a nação se dividiu, passando o livro narrar em paralelo os destinos da nação do norte: Israel inicialmente com Jeroboão e do sul: Judá inicialmente com Roboão.  A história seguiu a sequência de reis que fizeram o "que era reto perante o SENHOR, como Davi, seu pai" (1Rs 15:11) e reis que fizeram o "que era mau perante o SENHOR" (1Rs 16:30) até que por fim caíram as nações do norte e do sul por causa dos pecados que cometeram já no século V a.C.

# 1º e 2º Crônicas – Os livros das Crônicas dos reis de Israel retoma a história contada com uma breve resenha genealógica inicial recontando a trajetória dos reis: de Davi ao cativeiro.  Porém, diferentemente dos livros anteriores, aqui a ênfase é dada não na narração histórica sequencial, mas nos feitos e realizações administrativa e militar dos reis, principalmente suas ações no trato das coisas sagradas.  Estão nestes livros a reinterpretação feita por Davi e Salomão do culto e celebração, com o planejamento e a ordenação do sacerdócio levítico em Jerusalém.  O texto conclui com o povo no exílio e o rei persa Ciro autorizando a reconstrução do templo.

# Esdras – Curiosamente as últimas palavras de 2Cr são as primeiras palavras deste livro: o decreto de Ciro.  Esdras era o líder administrativo que, ao lado de Neemias, dos profetas Ageu e Zacarias e do sacerdote Zorobabel, iria reconduzir o povo à terra da Palestina e reconstruir a nação, os muros, o templo e o culto.

# Neemias – As narrações deste livro são paralelas às de Esdras.  Neemias era o arquiteto e incentivador da reconstrução da cidade e do templo e seu livro – assim com o anterior – é narrado em primeira pessoa.  A reconstrução se deu no século IV a.C. e teve seu ponto alto na leitura do Livro da Lei e arrependimento e confissão de pecados pela nação (Ne 8 e 9). 

# Ester – Este livro que nem cita o nome de Deus conta a história de uma jovem judia, que estando no palácio de Assuero, pode salvar toda a nação por não ter sido omissa.  O livro narra a instituição da Festa de Purim e era lido anualmente em sua celebração.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

GENTE COMO A GENTE

 



A Epístola de Tiago é um texto bem singular no Cânon do NT, diferente de outros escritos que apresentam longos e bons arrazoados doutrinários e teológicos, essa carta se ocupa apenas em apresentar posições cristãs para situações bem concretas.

É verdade também que alguns renomados líderes cristãos torceram os narizes diante desse texto ao longo da nossa história.  Mas isso só confirma a certeza: Deus fala a igreja nas suas próprias palavras, no seu cotidiano.  Apresenta soluções diretas e vai em busca de gente imperfeita, incapaz, incompleta e às vezes bem incoerente.

 

Certamente as reflexões teológicas tem seu lugar de destaque nas nossas fileiras cristãs.  Eu mesmo lido com esse labor como parte de vivência cristã.

 

Mas, voltando ao texto de Tiago, ele começa já afirmando que sabedoria e conhecimento cristãos não são exclusividade de alguns poucos privilegiados eruditos ou doutos, mas está disponível a todos – a gente como a gente.  Basta pedir que Deus dá (leia em Tg 1:5).

Depois segue pisando nos calos daqueles que mantêm uma atitude de preconceito social, pois para o Senhor todos são igualmente gente como a gente (veja a situação citada em Tg 2:1-9).

Fala ainda da relação entre uma fé de discurso e um cristianismo de atitude (a partir de Tg 2:14).  E faz uma advertência seríssima sobre os perigos da língua (seguindo a partir de Tg 3:1).

E na vida diária de gente como a gente, fica o alerta de se estabelecer os limites da obediência, teimosia, submissão e resistência (atente Tg 4:7).

No último capítulo da Carta ainda restam dois temas.  Um.  Aos ricos e poderosos em nossas comunidades que não se entendem que são gente como a gente, é dito que fiquem atentos por que desgraças podem chegar – e não seriam seus próprios recursos que iram lhes valer (observe Tg 5:1-6).

Outro.  Enfrentando os sofrimentos que insistem em assustar gente como a gente, fica o conselho a manter a paciência (em Tg 5:7-11).

Assim, concluímos essa leitura rápida da Carta de Tiago, destinada a igreja de Cristo – como tribos dispersas – lembrando em nosso cotidiano, diante das incertezas da vida, o exemplo de Elias, que sendo gente como a gente, com a sua oração, ainda assim teve acesso à torneira das chuvas em Israel (confira em Tg 5:17-18).

E que fique o resumo para gente como a gente:

 

Está aperreado? Ore
Está contente? Louve
(Tg 5:13)

 

terça-feira, 5 de janeiro de 2021

ESSE ANO

 



No ano em que o rei morreu (Is 6:1)

No ano quarto, no mês quinto (Jr 28:1)

No ano vinte e cinco do nosso cativeiro (Ez 40:1)

Dois anos antes do terremoto (Am 1:1)

Aconteceu no ano quarto do rei Dário (Zc 7:1)

 

Os profetas bíblicos sempre tiveram o cuidado de marcar suas mensagens com datas.  Suas profecias aconteceram em um ponto específico do calendário.

Isso me leva a reflexão sobre a atenção que o próprio Deus dá aos acontecimentos dentro da história.  Até ele mesmo, inclusive, se fez história ao participar da nossa vida e cotidiano.

Eu sei que o calendário, com suas datas e marcações é resultado do trabalho e tendência humana de estabelecer e reconhecer padrões na natureza e mundo que o cerca.

 

Deus criou dias e noites – nós os repartimos em horas e minutos.

Deus criou a lua com suas fazes – padronizamos os meses com suas semanas.

Deus criou as estações – e as agrupamos em anos.

E assim, somamos décadas, séculos, eras... e continuamos contando.

 

Depois desses alinhamentos iniciais com contornos mais teóricos, começo a pensar no instante em que vivemos.  E enquanto estou Escrevinhando essas primeiras palavras já em 2021 também começo a deixar a mente vagar.

 

Será que com o anoitecer da última quinta-feira e amanhecer da sexta-feira seguinte mudamos o chip? Ou foi somente mais uma alvorada que se seguiu à apenas mais um ocaso?

Ao mudar o registro do ano, unicamente lhe acrescentamos uma sequência? Ou damos um restart em nossa trajetória e perspectiva?

 

Eu hoje não tenho as respostas – como disse estou Escrevinhando apenas no início de 2021 – e pode ser que ao ler essas linhas em outras viradas de ano mais adiante eu até ache curioso.  Mas o tempo e a história são feitos assim: o que hoje é incerteza, amanhã é acontecido.  O que hoje é expectativa, amanhã é relato.

Assim, encerrando 2020, com tudo de interrogação que ele nos trouxe, e olhando para esse ano que estamos começando a trilhar como incontáveis outras interrogações (reconheço que algumas são as mesmas!), quero ler, como reforço de fé e esperança, as palavras do salmista:

 

Esse é o tempo que o Eterno fez.
Vamos celebrar e nos alegrar nele.
(Sl 118:24)