A sua pergunta é
boa e merece uma reflexão mais acurada. Vamos
a ela.
Começando pelo
segundo questionamento:
Quando Paulo
escreveu aos Coríntios já começava a haver alguma tradição cristã específica,
mas os Evangelhos escritos só surgiriam depois.
De acordo com os
melhores estudiosos, a Primeira Carta aos Coríntios foi escrita em Éfeso por
volta do ano 55 e o Evangelho mais antigo – Marcos – só apareceu depois do ano
64 (quase uma década depois).
Então o apóstolo
não estava se referindo a Escrituras Evangélicas.
Sobre o texto aos
Coríntios propriamente, o apóstolo escreveu para aquela igreja que era rica em
dons (veja 1Co 1:7), mas fraca e problemática em questões de doutrina e
precisava de repreensão em diversas áreas (considere 1Co 4:14). Inclusive no tema da ressurreição (que ele vai
tratar no final da epístola).
Voltando ao tema,
quanto à passagem, resta-nos a segunda opção: nas profecias do AT. E aqui reside a dificuldade, já que não há um
versículo explícito sobre a ressurreição – como há sobre o nascimento (Is 9:6)
e sobre a morte (Is 55:3).
Vamos caminhar um
pouco para entender as bases apostólicas.
Os primeiros
cristãos fizeram de maneira consciente e explícita uma leitura (boa exegese!)
nos textos antigos. Eles leram as
profecias do advento como apontando para Cristo (observe Mq 5:2 em Mt 2:5); e,
da mesma forma, as passagens dos Salmos reais foram aplicadas à Jesus (como o
Sl 110:1 em Hb 1:13).
Foi com essa
exegese que se chegou à ressurreição. Pedro,
no discurso inaugural por ocasião de Pentecostes, citou literalmente o Sl 16:10
aplicando-o a Jesus que não teve seu corpo decomposto, mas que Deus o
ressuscitou (o discurso está em At 2 e o verso da citação é o 27).
E mais. O próprio apóstolo Paulo fez referência a
essa passagem das Escrituras quando do seu discurso na Sinagoga de Antioquia
(leia em At 13:29-37).
Essa compreensão
passou então para a igreja primitiva e logo cedo a doutrina da ressurreição foi
compreendida como o cumprimento das Escrituras antigas.
Assim, tudo leva
a compreender que, aos Coríntios, Paulo estava citando essa interpretação das
Escrituras – que os cristãos de Corinto já deveriam conhecer e crer, mas que
ainda era motivo de ignorância e descrença (veja 1Co 15:1 e 34).
A certeza da
ressurreição foi tema central da crença da igreja primitiva e da pregação dos
cristãos originais. E Paulo a considerou
como destaque inegociável de sua fé – não hesitou diante dos sábios atenienses
(em At 17:30-31) e destacou como base de nossa doutrina, prática e esperança:
"O Deus que
ressuscitou o Senhor é o mesmo que haverá de nos ressuscitar
pelo seu poder."
(1Co 6:14).
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