quarta-feira, 29 de abril de 2020

Os sete metais que os antigos conheciam


Os antigos só conheciam basicamente sete metais: ouro, prata, cobre, estanho, chumbo, mercúrio e ferro. 
Como os povos bíblicos também compartilhavam esse conhecimento de metalurgia de sua época, fiquei curioso para saber como eles citaram em suas páginas esses metais.  Veja a tabela aqui com a comparação dos nome dos elementos nas línguas antigas, e depois vou compartilhar um pouco do que achei sobre cada um deles.



* Ouro - é o metais mais citado em toda a Bíblia (cerca de 415 vezes - desde Gn  2:11 que fala do ouro no Éden a Ap 21:18-21 que descreve o muro e a praça da Nova Jerusalém como de ouro).  Em geral o ouro é naturalmente usado em referência a riqueza e dinheiro, mas também pode simbolizar beleza e pureza.
* Prata - menos citado que o ouro (cerca de 280 vezes), a prata geralmente é símbolo de riqueza, sendo muitas vezes usada como uma referência direta ao próprio dinheiro.  A primeira citação está em Gêneses ao descrever a riqueza de Abraão (Gn 13:2).
* Cobre - esse não é considerado metal nobre ou precioso e, por isso, em geral é associado a instrumento de trabalho e ferramentaria (é citado cerca de 100 vezes na Bíblia).  Tubalcaim, filho de Lameque, é descrito como um artífice de instrumentos de cobre (em Gn 4:22).
* Estanho - metal pouco citado na Bíblia (apenas quatro vezes no AT e nenhuma no NT).  No Pentateuco, a recomendação dos ritos de pureza dos despojos trazido pelos soldados que vinham da guerra, incluía passar o estanho pelo fogo (veja Nm 31:22).
* Chumbo - também só referido no AT (nove vezes).  Era um metal de pouco uso diário e litúrgico.  O desejo de Jó foi que sua certeza de que o seu Redentor vive fosse esculpida em rocha com pena de chumbo (Jó 19:24-25).
* Mercúrio - único metal que em seu estado natural aparece em estado líquido, ele não é citado em nenhuma passagem bíblica.
* Ferro - metal citado em toda a Bíblia em variados contextos (cerca de 86 vezes no AT e NT), o ferro geralmente simboliza força e resistência.  Aproximando-se do final de sua visão, João descreve o Cavaleiro Fiel e Verdadeiro como regendo as nações com um cetro de ferro (em Ap 19:15).
 

terça-feira, 28 de abril de 2020

O Sal

Estudo bíblico ministrado por Elda Nogueira baseado em Mt 5:13

sexta-feira, 24 de abril de 2020

ILUSÃO DA ETERNIDADE


Tive a oportunidade de estar com o Professor Merval Rosa em sala de aula em dois momentos.
O primeiro foi no final de minha graduação em Teologia no Seminário em Recife.  Já havia cumprido a disciplina Psicologia Pastoral - logo não havia mais a necessidade acadêmica - mas aproveitei uma folga no horário para assistir algumas ministrações do mestre.
Uma década e meia depois, estava de volta ao Recife para as aulas de Mestrado e agora deveria cumprir a disciplina Religião e Personalidade com o professor.  Oportunidade aproveitada.  Penso que é dispensável dizer que as aulas foram por demais interessantes.
Desse segundo momento, porém, o melhor, sem dúvida alguma, não foram as obrigações acadêmicas.  Terminados os horários de exigências dos créditos, tínhamos ocasião para longas conversas - informais e despretensiosas - reunidos em grupo: mestre e discípulos, juventude e maturidade, experiência e jovialidade.
Numa dessas conversas de corredor, um dos colegas questionou o mestre sobre qual a principal vantagem de envelhecer?
Em sala de aula, o professor Merval havia exposto sobre os encantos que cada fase da vida pode ter e como eles podem ser bons veículos para uma religião saudável e rica.  E foi assim que o assunto se esticou...
Lembro que fizemos citações de seus ensinos de décadas atrás e de como eles pareciam ter evoluídos - ou amadurecidos - com o tempo.
Sinceramente, o que não me lembro são dos detalhes da resposta nem de todos os pontos ou argumentos daquela aula (sim! uma conversa daquela valia qualquer aula de teologia, filosofia ou psicologia que fosse).
Mas até hoje guardo a imagem da cena do velho mestre, colocando gentil e suavemente a mão no ombro do questionador e formulando a pérola:
— Filho, a principal vantagem da maturidade é que se perde a ilusão da eternidade.
Talvez a minha memória tenha feito o sentido real da frase se diluir no tempo e na distância.  Mas tenho que confessar que para mim não pareceu uma confissão de resignação ou frustração.  Pelo menos nunca a interpretei assim.
E dessa forma, até hoje tenho ruminado aquelas palavras e elas ainda soam como um desafio à busca de uma genuína maturidade cristã, quando a fé e a caminhada deixam de ser impulsionadas pelos arroubos pueris e alcançam a serenidade da dependência daquele que tudo pode.
Uns confiam em carros, outros em cavalos...  Entendi que essa é a ilusão da eternidade: eu tenho força e capacidade.  Eu posso.  Eu sou eterno.  Ilusão!!!
Mas a maturidade faz escoar a miragem e desfaz a ilusão.  E o que sobra ante à pequenez e finitude não é nem desespero nem vazio, pois eu as aceito e me entrego em confiança plena : ... Nós porém temos como referência o nome do nosso Deus (Sl 20).
Já não há autoconfiança desenfreada.  Nem ansiedade apressada.  Muito menos dogmas de fé a serem digladiados.
Com a perda da ilusão da eternidade ficou somente a madura confiança que traz paz. A saudável religião - re-ligação - e fé que agora me faz esperar apenas e inteiramente na graça que nos é ofertada por Jesus (leia as palavras de 1Pe 1:13-18).

quarta-feira, 22 de abril de 2020

DE VOLTA A AGOSTINHO


O tempo de quarentena me favoreceu uma oportunidade de retomar algumas leituras.  Esse tempo me trouxe de volta a Agostinho de Hipona.
Havia lido as suas Confissões pela primeira vez ainda quando seminarista - isso já se vão três décadas e uma "nova" edição me chegou às mãos.  Então decidi que era uma boa oportunidade de dialogar novamente com o Santo Douto.
Não acho necessário aqui fazer uma resenha ou apanhado crítico da obra.  Dei uma olhada na internet e encontrei um bocado de textos e publicações que já fazem isso.  Para não apenas acrescentar mais uma, vou apenas tangenciar o assunto.
Vamos lá:
Primeiro.  Quando me referi a uma "nova" edição, estava comparando com a que tive acesso no Seminário em Recife, que era publicação da década de 1950.  Essa agora é do ano 2000, mas manteve muito da linguagem clássica e erudita.  Tudo bem!  Deu para ler.  O vocabulário cheio de termos em desuso e a presença insistente de pronomes de segunda pessoa criaram uma atmosfera literária que pareceu me reportar à antiguidade, quando o livro foi escrito.
Segundo.  Nunca tive dúvida em afirmar que o modelo teológico agostiniano sempre foi um oriente bem marcado na minha própria formação teológica.  Então voltar às suas confissões só me fez relembrar o porquê de me sentir em casa entre seus escritos.
Terceiro.  Sei que os clássicos nunca são leitura recomendada para quem busca refresco e suavidade enquanto degusta um bom livro deitado numa rede num final de tarde.  E Agostinho é sim refeição pesada!  Mas uma boa ginástica intelectual sempre faz bem.
E quarto.  Agostinho era crente.  E dos bons!  Só que tenho lá minhas dúvidas se eles se ambientaria bem na igreja de hoje. Mas...
Bem, de volta a Agostinho.
As Confissões, como o próprio título já indica, são o relato que o próprio Agostinho faz de sua vida e trajetória.  E isso ele faz entrecortando com pensamentos e reflexões profundas e significativas.
Aponto algumas:
"Vós o incitais a que se deleite nos vossos louvores, porque nos criastes para vós e o nosso coração vive inquieto, enquanto não repousa em vós."  Para mim essa citação inicial é a citação.  Quando penso no Santo Agostinho, é essa a primeira referência.  O reconhecimento de um Deus que graciosamente nos atrai para sermos inteiros e nos saciamos nele mesmo.
"Não há dúvida que a memória é como o ventre da alma."  Depois eu talvez escreva mais e me aprofunde nesse conceito: a nossa memória foi uma benção dada por Deus para com ela poder fecundar nossa alma.  Com certeza tem muito o que se degustar aqui.
"Na eternidade nada passa, tudo é presente, ao passo que o tempo nunca é todo presente."  Pode até parecer apenas um jogo de palavras, mas o peso de toda a argumentação de Agostinho é fortíssimo e não me lembro de ninguém ter conseguido demonstrar de maneira tão clara os conceitos de nossa inferioridade de percepção no tempo e a grandeza da eternidade divina.
"O único Deus acomodou a Escritura Sagrada à inteligência de muitos que haviam de descobrir nela coisas verdadeiras e diferentes."  A quantidade de textos bíblicos que Agostinho cita é impressionante (principalmente dos Salmos) e ele sempre trata o texto como obra do amor e cuidado de Deus em se revelar.  Mas também não há arrogância em afirmar que sua interpretação e compreensão particular é a única certa é apropriada.  Para entender a Bíblia é preciso que o Espírito se mova sobre o fiel.
E, para terminar, uma citação do apóstolo Paulo tirada diretamente da pena do bispo de Hipona:
"Reformai-vos no rejuvenescimento do vosso espírito para entenderes qual seja a vontade de Deus, e discernirdes o bem, o agradável e o perfeito" (a partir de Rm 12:2).

terça-feira, 21 de abril de 2020

Aprendendo com Josué


Estudo Bíblico ministrado por Elda Nogueira

sexta-feira, 17 de abril de 2020

CURANDO A TERRA


Deixei livremente as ideias vaguearem pela cabeça.  Acho que, como fez no princípio sobre as águas do abismo, o Espírito às vezes também paira sobre as águas dos pensamentos e as fecunda livre e lentamente.
Acredito que era isso que estava acontecendo: o pensamento pululando de uma ideia a outra, e, tendo o próprio texto bíblico como referência, o Espírito foi-me de uma citação à outra.
Uma vez assim, reconhecendo apenas o passeio das ideias, vou compartilhar o ondular dos textos.  Não vou me ater a interpretações rigorosas ou detalhes exegéticos.
Convido-os a navegar comigo.
Tudo começou a partir de uma mensagem que estava ouvindo na internet e que tinha como base o texto de 2Cr 7:14.  A reflexão ali seguia em outra direção, mas a minha mente foi dispersa para um detalhe do texto: a terra precisa ser curada por que está doente!
Mas a terra não tem que unicamente ser entendida como ponto geográfico.  A terra é o chão, o solo, o lugar onde eu jogo minha semente e olho para o futuro na esperança de ver crescer e deixar frutos para as próximas gerações.
Mas a terra está doente.  E se o solo carece de correção e cura, então o plantio vai ser desperdício.
Achei que seria interessante aqui pensar sobre técnicas de correção de solo.  Porém, como não sou entendido de agricultura, o Espírito navegador apontou de volta ao texto sagrado.
Jesus contou de um certo semeador que jogou suas sementes em solos distintos.  E algumas delas não viram a semeadura prosperar por que a terra estava doente - tinham necessidade de cura.  Aves nas trilhas, pedras e espinhos adoecem uma terra.
Nessa altura um outro texto compareceu à minha mente.  Na verdade, confesso que a princípio até nem consegui fazer uma ligação direta entre os textos, mas, confiando na direção do Vento, vamos à citação.
O apóstolo Paulo disse aos Romanos que toda a terra geme até agora por conta do nosso pecado, aguardando o momento em que será definitivamente curada.
Então voltei ao texto que deu origem a esse sobrevoo.  "Se o meu povo ... se voltar para mim ... se arrepender ... eu vou curar sua terra."
O nosso chão, nossa plantação, nosso futuro está doente.  Nossas escolhas, decisões e pecados enfermaram a terra.  Mas há uma cura, ou melhor, há alguém que pode curar: o mesmo Espírito que paira e fecunda é aquele que cura o nosso chão, nossa plantação, nosso futuro.
E finalmente: "Ele é fiel e justo para nos perdoar e nos curar de todo pecado" (como disse João em 1Jo 1:9).

sexta-feira, 10 de abril de 2020

O VITUPÉRIO DE CRISTO


Nascer num lar cristão traz consideráveis vantagens na formação religiosa e moral.  Mas também, se acostumar a um ambiente assim leva ao hábito e ao costume com determinadas formalidades e expressões que acabam as tornando ocas.
— Sei o que é isso.
Na semana em que todos os cristãos celebram a sua principal data: a páscoa , esse tipo de constatação com a qual eu abri essa reflexão tem muito a dizer.
A história conta que enquanto os judeus celebravam o seu antigo ritual de Pessach, Jesus o ressignificou estabelecendo as bases de uma nova aliança com Deus.  Dali ele sairia ao Getsêmani, para, sob traição, ser entregue, ser julgado e por fim morrer no Calvário.  Assim temos agora a Páscoa cristã.
É essa narrativa contada e recontada - ouvida, representada e decorada desde a infância - que, de tanto repetida, já não mais toca, nem choca, a nossa cristandade costumeira.
Assim a Páscoa se repete apenas como mais uma data, mais um ritual.  E mesmo os ingleses a chamando de Easter Holiday, acaba sendo somente mais um feriado em nosso calendário dito eclesiástico - ou cristão.
E os sinos cristãos ano após ano, rito após rito, Páscoa após Páscoa, parecem se repetir badalando um som vazio e disperso, já não mais me trazendo à contrição que o momento impõe.
Então sou alcançado em meio à repetição mecânica dos autos e festejos da Páscoa pela advertência do texto bíblico: "Saiamos, pois, a ele fora do arraial, levando o seu vitupério" (Hb 13:13).
Mas nem essas palavras conseguem outra vez atribuir peso e significado ao momento pascoal.  Vitupério.  Essa é daquelas palavras que nos acostumamos a encontrar na versão mais tradicional de nossas Bíblias em português - e hoje só encontramos lá e no dicionário.
(Acho que João Ferreira de Almeida devia usar no seu dia-a-dia, lá no século XVII, palavras como vitupério, circuncisão, concupiscência, propiciação ou serôdia - hoje eu só as conheço nas versões antigas da Bíblia.)
Vitupério, segundo o entendimento da palavra grega usada no texto (νειδισμς) se refere àquela vergonha moral e social, àquele vexame público que nos é imposto, àquele constrangimento do qual tudo o que nos resta é querer fugir e escapar.
Acho que o termo moderno bullying, que incorporamos do inglês, expressa com alguma precisão o que os gregos queriam dizer com essa palavra.
Assim então eu sou instado a celebrar a Páscoa pelo autor do texto aos Hebreus:
"Saiam do meio do burburinho e se juntem a Cristo fora da agitação dessas celebrações rituais, lá onde ele suportou de vontade própria a vergonha do nosso bullying".
A celebração da Páscoa é isso, é mais do que apenas uma oportunidade de repetir uma história, é a certeza da vitória de Cristo sobre o vitupério, a vergonha, o bullying massacrante por nossos pecados.
Ele voluntariamente levou sobre si os meus pecados e tomou o meu lugar no vitupério. O castigo que me traz a paz estava sobre ele e pelas suas feridas minha vergonha foi satisfeita (posso ler Is 53:5 nesses termos).
Com uma convicção assim, a Páscoa é mais que ritual costumeiro ou feriado no calendário, o vitupério é mais que uma palavra difícil, a festa é mais que autos bonitos.  É a certeza e celebração da restauração da minha dignidade humana como filho e imagem de Deus.  A minha razão de ser e existir.  Aquilo que me identifica.
E eu o celebro com a mais sincera gratidão pois já livre da humilhação pública e exposição eterna do meu pecado, posso agora sentar nos lugares santos.

terça-feira, 7 de abril de 2020

TESTAMENTOS, ALIANÇAS E PACTOS


O livro de Hebreus começa com a seguinte afirmação: "Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias a nós nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, e por quem fez também o mundo" (1:1-2).
Neste fantástico documento cristão primitivo que reputamos por inspirado – por estar na Bíblia – o autor reconhece que nos tempos passados Deus havia falado.
Nosso Deus, embora seja supremo e tremendo, ele se revela aos seus.  Primeiramente aos pais pelos profetas, e finalmente através de Jesus Cristo.
O que temos aqui também é o testemunho primordial e bíblico de que o Livro Sagrado cristão – oriundo da própria vontade e revelação de Deus – é duplo desde a sua origem.
Há uma parte inicial que foi dada aos antepassados, mas que sozinha era incompleta, dependendo de uma segunda parte que foi dada a partir da própria revelação do Filho de Deus encarnado.

MAIS, POR QUE TESTAMENTO?

O termo já é bastante conhecido.  As duas partes da Bíblia cristã são chamadas de Testamento: o Antigo Testamento e o Novo Testamento.
Mas vamos nos deter um pouco na palavra em si.  A palavra Testamento no dicionário quer dizer: "Ato gratuito pelo qual alguém dispõe de seu patrimônio para depois de sua morte".
Biblicamente o termo é usado para significar pacto, aliança, concerto ou acerto feito entre Deus e os seres humanos. A própria Bíblia se refere a vários deles com maior ou menor extensão e implicação. Vejamos alguns exemplos:

§ A Noé Deus disse: "Contigo estabelecerei o meu pacto" (Gn 6:18).
§ Sobre Abraão é dito: "Fez o Senhor um pacto com Abrão" (Gn 15:18).
§ Em relação aos filhos de Israel o próprio Deus afirma: "Estabeleci o meu pacto com eles" (Êx 6:4).
§ A arca sagrada diante da qual o culto em Israel era oficiado é chamada de "Arca da Aliança" (Nm 10:33 / 1Rs 3:15 / Ap 11:19).
§ O sangue de Cristo foi derramado como selo do novo pacto (1Co 11:25).
§ É testificado aos Hebreus que em Cristo foi estabelecido uma nova e superior aliança (Hb 8:6).
§ Assim as duas grandes divisões da Bíblia são o registro das duas grandes alianças estabelecidas entre Deus e a humanidade.

Ao longo da história humana, Deus sempre tomou a iniciativa de vir ao encontro do ser humano. Mesmo caídos e rebeldes, homens e mulheres continuaram sendo as amadas criaturas de Deus que as procura como filhos.
Nesta procura, Deus estabeleceu acertos, pactos, alianças, testamentos e os deixou registrados para que em todas as épocas todos pudessem ter acesso ao mesmo amor misericordioso do Pai-Criador.
Sendo assim, ainda hoje podemos crer em um Deus que se importa fundamentalmente conosco, nos propondo um acerto de vida. Em Cristo podemos fazer um testamento eterno com Deus, baseado nas promessas que ele nos deixou escrito desde os tempos antigos.
Façamos pactos com ele.

sexta-feira, 3 de abril de 2020

MARIA DE MAGDALA


Resolvi pensar um pouco sobre Maria Madalena.  Juntou os tempos de quarentena com os dias da Quaresma e a figura da Madalena me veio à mente.
— Qual a relação?
A despeito do que tradição, interpretações dúbias, citações apócrifas e sucessos pops tenham dito, Maria Madalena é uma figura bíblica.
Então, certo de que só vou me ocupar do que eu encontrar nas páginas sagradas, volto a questão: Qual a relação entre a Quaresma e a Madalena?
Resposta rápida: Maria Madalena aparece nos Evangelhos somente nos relatos da paixão – morte e ressurreição de Jesus (veja Mt 27 e 28 / Mc 15 e 16 / Lc 24 / Jo 19 e 20 – há uma exceção em Lc 8:1-2 quando o evangelista cita a Madalena entre as mulheres que davam suporte ao ministério de Jesus).
Vamos além.
A Bíblia não apresenta muitos detalhes sobre seus personagens – principalmente as mulheres.  Sabemos que ela era de Magdala, uma aldeia distante uns 10 km de Cafarnaum, a base do ministério de Jesus e que dela foram exorcizados sete demônios.
Idade? Aparência? Personalidade? Liderança? Manias? Jeitos? ... Nada! Nada! Nada!
Deixe-me logo aproveitar para apresentar a figura que tenho em mente quando leio sobre essa Maria de Magdala.
Eu penso nela como uma matrona, uma mulher de idade madura, respeitável pela experiência de vida e pelo procedimento.  Uma espécie de mãezona que passou a viajar junto com a caravana do Rabi Jesus ao longo do seu ministério.
Não sou o único a pensar nela assim, nem tenho documentos que sustentem essa visão, mas acho bem plausível e coerente.
Assim, chegamos ao pé da cruz no Monte Calvário.  O discípulo amado estava ali – o único dos discípulos homem – mas também a mãe do crucificado, sua tia, a mulher de Clopas e a Madalena (a lista está em Jo 19:25-26).
Ali estava ela, provavelmente com o rosto banhado de lágrimas.  Ideias confusas tumultuavam sua mente e uma terrível sensação de impotência a dominava.
Depois se ver livre de demônios, de caminhar com o Mestre, de compartilhar sonhos e expectativas: agora o duro madeiro.
Madalena no Gólgota me representa quando sinto o gosto amargo da frustração, o obscuro vazio, o incerto porvir.  E agora?  Não pode acabar assim!
Mas não acabou.
Na madrugada do primeiro dia é ela, a vivida Maria de Magdala que estava no jardim do sepulcro para cumprir seus últimos rituais fúnebres.
Não há tempo nem experiências que nos preparem para isso.
E eis que uma voz interrompe o choro: Mulher, por que choras? (Jo 20:15).
É o ressuscitado.  Aquele que a livrou dos sete demônios, deu-lhe a oportunidade e prazer da companhia na caminhada.  Aquele que a conhecia na intimidade a ponto lhe chamar pelo nome:  Maria! (verso 16).
Assim o novo irrompe sobre o caos e a incerteza da vida que precisa continuar, trazendo-lhe novo alento e significado.
Nesse tempo de Quaresma e quarentena, nesse tempo de recolhimento, reflexão e incerteza, estou com a Madalena, tentando disfarçar lágrimas e enxergar futuro.  Aqui é também que eu consigo ouvir aquele que venceu a morte me chamando pelo meu nome.
Então o jardim não é mais de sepulcro, nem é mais assustador, e nem muito menos solitário: Eu vi o Senhor! Ele vive!
Que nos traga Cristo consolo, esperança e nova intimidade, nesse tempo de solitude, como o fez com aquela senhora de Magdala.