Nos estudos
das Ciências da Religião, Fenomenologia e História das Religiões apresentam-se
como duas perspectivas de abordagem completamente distintas enquanto estudo
humano, social ou individual. Embora trabalhem
como o mesmo “objeto” de pesquisa, as duas disciplinas partem de
pressupostos distintos e de metodologias opostas na tentativa de descrever,
classificar e compreender a religião.
Veja o que
cada uma propõe:
→ A Fenomenologia
entende a religião como um φαινόμενος – algo universal e totalmente
perceptível e demonstrável.
Ela busca
sempre um objetivismo ontológico da sacralidade. Ou seja, tirando a religião da história,
busca compreendê-la como algo que pode ser percebido a priori e cujos
pressupostos podem ser detectáveis de maneira clara e inequívoca em toda e
qualquer manifestação – fenômeno – religiosa, independente dos fatores
históricos, sociais e culturais que o envolvam.
Para a
Fenomenologia, o sagrado e o transcendente se impõem como características
essencialmente humanas universalmente aceitas.
Neste sentido, tanto a própria religião quanto as suas manifestações
podem ser estudadas enquanto fenômenos humanos em si como um objeto quase
natural preexistindo à própria história.
E indo
além, é como se houve em um ponto remoto da própria história humana uma única
religião que deu origem a todas as outras e cujos pressupostos podem ainda ser
identificados em quaisquer fenômenos religiosos ainda hoje observados.
Um outro
aspecto é que a Fenomenologia, por entender a transcendência e o sagrado como
pressupostos universais, se pretende com alheia a qualquer interferência
etnocêntrica em seus estudos.
→ A História
das Religiões concebe a mesma como γενόμενος – resultado de processos historicamente variáveis
tanto na sua formação como no seu desenvolvimento e alinhamento histórico e
cultural.
Assim, as
Ciências da Religião, enquanto estudo baseado na História das Religiões, traça
seu escopo de trabalho a partir de uma comparação histórica dos processos de
formação social e cultural dos povos, logo, se propõe a aceitar a religião a
partir de se suas realizações sociais e culturais, precisando ser sempre mediada
e avaliada a partir dos conceitos etnocêntricos do próprio trabalho de estudo
histórico.
Ou seja,
interagindo entre as Ciências Humanas, a História das Religiões problematiza o
próprio conceito e categorias de “religião” como algo que só ocorre
enquanto evento resultado das relações históricas e culturais, estando,
portanto, dependente destes.
E mais: ela
apenas a concebendo enquanto manifestação histórica vinculada ao desenrolar das
demais eventos históricos, sociais e culturais – nunca como buscará
compreender, nem aceitar o sagrado como algo único ou sobrenatural, mas plural,
como são as próprias manifestações histórico-culturais da humanidade.
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