terça-feira, 8 de outubro de 2019

CIÊNCIAS DA RELIGIÃO – Fenomenologia ou História?


Nos estudos das Ciências da Religião, Fenomenologia e História das Religiões apresentam-se como duas perspectivas de abordagem completamente distintas enquanto estudo humano, social ou individual.  Embora trabalhem como o mesmo “objeto” de pesquisa, as duas disciplinas partem de pressupostos distintos e de metodologias opostas na tentativa de descrever, classificar e compreender a religião.

Veja o que cada uma propõe:

→ A Fenomenologia entende a religião como um φαινόμενος – algo universal e totalmente perceptível e demonstrável. 
Ela busca sempre um objetivismo ontológico da sacralidade.  Ou seja, tirando a religião da história, busca compreendê-la como algo que pode ser percebido a priori e cujos pressupostos podem ser detectáveis de maneira clara e inequívoca em toda e qualquer manifestação – fenômeno – religiosa, independente dos fatores históricos, sociais e culturais que o envolvam. 
Para a Fenomenologia, o sagrado e o transcendente se impõem como características essencialmente humanas universalmente aceitas.  Neste sentido, tanto a própria religião quanto as suas manifestações podem ser estudadas enquanto fenômenos humanos em si como um objeto quase natural preexistindo à própria história. 
E indo além, é como se houve em um ponto remoto da própria história humana uma única religião que deu origem a todas as outras e cujos pressupostos podem ainda ser identificados em quaisquer fenômenos religiosos ainda hoje observados.
Um outro aspecto é que a Fenomenologia, por entender a transcendência e o sagrado como pressupostos universais, se pretende com alheia a qualquer interferência etnocêntrica em seus estudos.

→ A História das Religiões concebe a mesma como γενόμενος – resultado de processos historicamente variáveis tanto na sua formação como no seu desenvolvimento e alinhamento histórico e cultural.
Assim, as Ciências da Religião, enquanto estudo baseado na História das Religiões, traça seu escopo de trabalho a partir de uma comparação histórica dos processos de formação social e cultural dos povos, logo, se propõe a aceitar a religião a partir de se suas realizações sociais e culturais, precisando ser sempre mediada e avaliada a partir dos conceitos etnocêntricos do próprio trabalho de estudo histórico.
Ou seja, interagindo entre as Ciências Humanas, a História das Religiões problematiza o próprio conceito e categorias de “religião” como algo que só ocorre enquanto evento resultado das relações históricas e culturais, estando, portanto, dependente destes. 
E mais: ela apenas a concebendo enquanto manifestação histórica vinculada ao desenrolar das demais eventos históricos, sociais e culturais – nunca como buscará compreender, nem aceitar o sagrado como algo único ou sobrenatural, mas plural, como são as próprias manifestações histórico-culturais da humanidade.

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