terça-feira, 15 de outubro de 2019

A DOXOLOGIA DE JUDAS


A pequena Epístola de Judas, que em nossas Bíblias fica lá no finalzinho do NT, é uma das menos citadas e estudadas.  É até compreensível.  Ela tem relativamente pouco material – se comparada a outros escritores – e faz umas citações meio esquisitas: comenta uma disputa entre Miguel e o diabo pelo corpo de Moisés e faz uma citação de Enoque (ambos não encontram paralelo em outras citações bíblicas).
Quanto ao seu autor, a tradição aponta esse Judas como sendo o irmão de Jesus.  Na verdade, esse era um nome bem comum no primeiro século na Palestina e não há nenhuma indicação inquestionável sobre quem seria ele.  O que se tem é uma citação de Eusébio na sua História Eclesiástica que aponta uma tradição do segundo século se referindo ao autor como sendo “Judas – dito irmão do Senhor pela carne”.
Vou deixar estas questões introdutória e me concentrar no que se tem de melhor neste pequeno escrito: a Doxologia com a qual ele conclui seu texto.

Àquele que é poderoso para impedi-los de cair
e para apresentá-los diante da sua glória sem mácula e com grande alegria,
ao único Deus, nosso Salvador, sejam glória, majestade, poder e autoridade, mediante Jesus Cristo, nosso Senhor, antes de todos os tempos, agora e para todo o sempre! Amém.


Quero analisar suas palavras.  Mas antes, deixe-me compreender o que é "Doxologia".  Segundo o dicionário, é uma fórmula litúrgica de arremate nas grandes orações (hinos, preces, versículos etc.) em que se glorifica a grandeza e majestade divinas.   E é isso mesmo que Judas faz aqui, ele arremata sua epístola com uma declaração que expressa a fé a convicção dos cristãos primitivos sobre quem é Deus e como devemos adorá-lo.
Duas palavras eu destaco como descrevendo o próprio Jesus Cristo. Poderoso (em grego: δυναμένῳ – nessa forma, particípio presente).  Dessa mesma raiz é a expressão do poder que foi outorgado aos discípulos na descida do Espírito Santo (confira At 1:8). 
A outra palavra é único (em grego: μόνῳ).  O livro da revelação do Apocalipse registra que os vencedores da besta entoavam o cântico de Moisés declarando ao Rei das nações que somente – o único – ele é santo (leia em Ap 15:4).
Judas reconhece que somente o que tem todo o poder para nos guardar dos tropeços e nos apresentar ao Pai imaculados pode merecer o louvor a ser declarado a seguir.
Então a ele seja…
Glória (em grego: δόξα) – literalmente: brilho, esplendor, fama, honra.  É essa mesma expressão que traduz a glória de Senhor que encheu o templo quando Salomão o inaugurou (veja 2Cr 7:1 – veja também no mesmo sentido Ap 15:8).  Ainda foi a fumaça de glória que estava no louvor dos serafins e impactou Isaías (confira Is 6:3).
Majestade (em grego: μεγαλωσύνη) – literalmente: grandeza.  O autor aos Hebreus usa essa expressão para se referir ao lugar de destaque e majestade onde fica o trono do Deus (em Hb 8:1).  E o Salmo 150 instrui a louvar ao Senhor por sua grandeza (Sl 150:2).
Poder (em grego: κράτος) – literalmente: força, governo.  Com essa palavra os gregos antigos se referiam às suas cidades-estado.  Apresentando a armadura de Deus, o apóstolo reconhece que somente sob o governo e poder do Senhor é que seremos fortalecidos (leia em Ef 6:10).
Autoridade (em grego: ἐξουσία) – literalmente: poder, domínio, jurisdição.  É com essa palavra que Mateus descreve toda a autoridade que o próprio Jesus declara estar em seu controle no céu e na terra (confira em Mt 28:18).

Então eu me somo a Judas na adoração a Jesus Cristo, Senhor nosso, por toda eternidade, declarando o AMÉM solene (Αμήν – אמן).

4 comentários:

  1. Lindíssima explanação, como nunca eu tinha estudado. Obrigada por explicar claramente o texto. Ycléa

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    1. Que bom que ficou mais claro o texto bíblico. A glória seja unicamente ao Deus e Pai do nosso Senhor Jesus Cristo.
      Abr.

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